terça-feira, outubro 30, 2012

Um sonho

Outro dia, fui a uma festa e, como toda boa mulher, ao ver o cabelo lindo da minha amiga, não resisti e perguntei quem era a cabeleireira, pedi o telefone, quis saber até o preço da coloração - a amiga é bem chegada, por isso tomei a liberdade. Somos assim. Quando vemos alguma coisa muito boa, quando algo nos chama a atenção, corremos atrás para saber mais detalhes, compramos revistas, assistimos a programas, fazemos o possível para saber mais. No afã de obter informaçōes, muitos seguem de perto seus ídolos.

Pregar o Evangelho não tem sido muito fácil nestes tempos e isso me incomoda bastante. A Bíblia conta, no livro de atos, de uma igreja que caiu na graça do povo e, por isso, crescia a cada dia. Imagino que o povo corria atrás dessa igreja para saber mais e, quando os conhecia, resolvia fazer parte daquela maravilhosa comunidade, o que é bem o motivo das nossas reuniōes: um encontro dos irmãos, uma deliciosa reunião de família, e, se não é assim, deveria ser.

Este post me veio quando, em meu coração, me lembrei deste Salmo: "Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham.  Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de cânticos; então, se dizia entre as nações: Grandes coisas fez o Senhor a estes.  Grandes coisas fez o Senhor por nós, e, por isso, estamos alegres" (Sl 126:1-3). Como você pode ver, as pessoas de outras naçōes admitiam que Deus estava sendo bom para com os israelitas. E por quê? Por causa da postura deles.

Já ouvi muitos dizerem: "Para ser crente como esse aí, prefiro ficar fora. Esse Deus a quem vocês servem é muito chato. Essa igreja é horrorosa. Ô povinho chato esse chamado crente". 

Estamos longe de cair na graça do povo. E por que será? Podemos entender parte disso através do Salmo. As pessoas acerca de quem se falava que era visível a bênção de Deus eram gente feliz e agradecida, cuja boca estava cheia de risos e a língua de cântico. Eles se lembravam de como eram no passado e da obra que Deus havia feito na vida deles. Chegaram a dizer que a vida atual deles parecia um sonho: "Quando o Senhor restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha".

Não são poucos os que nem sabem o que estão fazendo no caminho do Senhor. Muitos sentem uma saudade imensa do tempo em que andavam em seus próprios caminhos, seguindo o seu próprio desejo, como diz Efésios, destrutivo: "E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,  em que, noutro tempo, andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência;  entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também" (Ef 2:1-3). 

Depois que aceitamos a Jesus, que Ele entrou na nossa vida e em nós veio fazer morada, passamos a ter vida. Isso sim é vida de verdade! Mas estamos realmente como quem sonha ou a vida com Deus parece um pesadelo: "Porque é mandamento sobre mandamento, mandamento e mais mandamento, regra sobre regra, regra e mais regra: um pouco aqui, um pouco ali" (Is 28:10)? Como podemos ter saudade de um tempo de trevas? Isso só se justifica se ainda permanecemos em trevas, pois, quem viu a luz sabe como ela é maravilhosa: "Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8:12).

Quem não consegue ver o bem, quem não consegue se regozijar com a vida que tem em Cristo deve analisar se realmente está nEle - "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele" (Rm 8:9). Quem disse isso foi Paulo ao escrever aos romanos. Quem está em Cristo anda no espírito, cujos frutos são: alegria, paz, paciência, fé, bondade, mansidão, domínio próprio, benignidade e amor. Se essas características não fazem parte do nosso caráter, precisamos analisar se realmente estamos em Cristo - talvez ainda não estejam aperfeiçoadas, mas prosseguimos para o alvo.

Quando o Senhor restaurou a nossa sorte, livrando-nos de um futuro miserável, da opressão, do caos, ficamos como quem sonha. Ah que sonho bom saber que podemos andar com Deus todos os dias, falar com Ele quando quisermos e ter a certeza de que somos ouvidos, fazer pedidos sabendo que seremos atendidos: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e
vos será feito" (Jo 15:7)!

Quando vivemos como Deus espera de nós não tem jeito; as pessoas têm de reconhecer que, de fato, o Senhor é conosco. Várias vezes tiveram de dizer de Abraão: "Ouve-nos, meu senhor: príncipe de Deus és no meio de nós" (Gn 23:6).

Estou certa de que as pessoas não reconhecerão que Deus é conosco enquanto nós mesmos não estivermos convictos disso e celebrando esse presente. Veja novamente como o que as pessoas diziam de Israel e o que eles diziam deles próprios combinava: "Então, se dizia entre as nações: Grandes coisas fez o Senhor a estes.  Grandes coisas fez o Senhor por nós, e, por isso, estamos alegres".

Se você não está convicto de que Deus está com você, encerro com alguns textos da maravilhosa Palavra que não mente jamais: "Deus mesmo disse: 'Nunca o deixarei, nunca o abandonarei (Hb 13:5); Eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos (Mt 28:20). Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti" (Is 43:2).

sexta-feira, outubro 26, 2012

Final da história

Sinto-me obrigada a retomar o assunto do post anterior. Se você não leu, peço, por favor, que, antes de ler este aqui, dê uma olhadinha lá.

Falei que o preço da paz não é alto demais, mas o sentimento de injustiça é cruel. E é muito difícil livrar-se dele. Por mais que digamos que deixamos para lá, dói. O que fazer então? Vou mostrar a você o fim dessa história para que o seu coração seja reanimado. Deus é tão tremendo, tão maravilhoso que nos deixa antever o que está por vir para que suportemos as aflições e não morramos sem alcançar a promessa: “E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gl 6:9).

Só para situá-lo novamente, resumirei ao máximo a história. Abraão cavou poços e lutaram com ele pela posse destes. Ele abriu mão, aceitou o prejuízo e o povo, que nem precisava desses poços, os entulhou. Anos depois, Isaque resolveu reabrir esses poços e dar a eles os mesmos nomes que seu pai havia dado: “Isaque reabriu os poços cavados no tempo de seu pai Abraão, os quais os filisteus fecharam depois que Abraão morreu, e deu-lhes os mesmos nomes que seu pai lhes tinha dado” (Gn 26.18). Ele abriu, o povo reclamou a posse (26.20). Isaque deixou o poço para lá e cavou outro. Eles reclamaram a posse do segundo poço. Isaque abriu mão, eles ficaram com o poço (26.21). Isaque cavou de novo (26.22). Então não reclamaram.

Vamos pensar sobre o assunto. Hoje temos máquinas para cavar poço. É um trabalho de horas, mas, naquela época, era de dias e, pior, sem garantia de haver água no lugar onde estavam cavando. Devia ser uma trabalheira louca cavar poço. Isaque se submeteu a isso três vezes por pura inveja de gente que nem precisava de um poço.

Fugir da briga uma vez é totalmente aceitável. Fugir duas vezes é estranho. Três vezes, impensável, não é mesmo? Não, não é. Foi assim que Isaque se comportou. Imagino que, se dez vezes fosse confrontado, dez vezes cederia.

Sabe como costumam chamar homens assim hoje em dia? Ba-na-na. Que dureza, amigo! As perdas enfrentadas por Isaque foram maiores do que simplesmente de um bem. Havia mais a perder: a própria imagem. Duvido de que ele não tinha empregados para dizer a ele: “Vamos matar esse pessoal; quando vierem tomar posse do poço, vamos dar uma surra neles”. Quantas sugestões ele deve ter recebido! Ah, como precisamos ouvir as pessoas certas – ou A Pessoa certa!

Amigo, se você é brasileiro, tenho certeza de que conhece a expressão: “O mundo é dos espertos”. Quem não conhece a famosa Lei de Gérson: devemos levar vantagem em tudo? Só que a Lei de Deus é maior e mais poderosa do que qualquer princípio humano: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).

Veja só como essa história acaba de uma maneira linda: Isaque se mudou daquele lugar, indo morar em Berseba, abandonando um poço que furou a duras penas. Lá Deus reafirmou seu concerto com Ele. Quer dizer, o último poço ficou como um presente para aquele povo contencioso. Nesse novo lugar, foi necessário cavar outro poço, se estabelecer, recomeçar, furar novos poços.

O povo da terra anterior ficou lhe devendo. Deviam-lhe três poços. Isaque pode ter-se esquecido da dívida, o povo pode ter-se esquecido da dívida, seus empregados podem ter-se esquecido da história toda, mas o mundo espiritual registra tintim por tintim: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gl 6:7).

Não se sabe o que houve em Gerar depois que Isaque deixou a terra, mas algo aconteceu que os fez reconhecer que Deus era com ele. De alguma maneira, eles sofreram a perda de um homem a quem o Senhor não se cansava de abençoar. Por isso, tiveram de voltar para se desculpar: “Por aquele tempo, veio a ele Abimeleque, de Gerar, com Auzate, seu conselheiro pessoal, e Ficol, o comandante dos seus exércitos. Isaque lhes perguntou: ‘Por que me vieram ver, uma vez que foram hostis e me mandaram embora?’ Eles responderam: ‘Vimos claramente que o Senhor está contigo”. Que coisa linda! Eles tiveram de engolir seco o orgulho.

A Palavra de Deus não falha. Não ficaremos eternamente no prejuízo. De alguma forma, Deus nos recompensará o dano causado injustamente. Aleluia! Deus não se esquece. Só preciso informar-lhe que é preciso esperar o tempo passar. A Bíblia não diz quanto tempo demorou para que Isaque fosse procurado, mas acredito que passou um bocado de tempo. Sabe por quê? Por causa desta frase aqui: “Agora sabemos que o Senhor te tem abençoado" (Gn 26.29). Certamente tiveram de juntar muitos fatos para reconhecer que aquele a quem haviam pedido para sair da terra fazia falta. E tiveram de engolir seco o orgulho, admitir que estavam errados e ir atrás.

Querido leitor, como eu disse no post anterior, a olhos humanos, deixar para lá, não reivindicar o que nos é de direito parece uma injustiça muito grande. Por outro lado, fincar o pé e manter-se no lugar do confronto é um desgaste ainda maior. Afeta a saúde espiritual, afeta a saúde física, afeta a saúde relacional. É preciso aprender a conviver com a perda e olhar as questões com olhos espirituais: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” (Sl 37.11). Esse último versículo é interessante. Escrito num tempo em que para ter posse da terra era preciso guerrear, traz uma verdade interessante: para herdar a terra, é preciso ser manso e esse que herdar assim terá paz, não precisará brigar para manter sua posse.

Espiritualmente, Isaque saiu ganhando. Não parecia. Os poços ficaram, o trabalho foi perdido, ele sofreu um abuso do seu direito, foi espoliado, mas o fim da história mostrou que ele saiu ganhando.

Aguente firme. O invejoso não prosperará para sempre. Mais cedo ou mais tarde, terá de reconhecer que Deus é com você. Não se lamente, não murmure, não sofra. No momento certo, Deus mostrará a todos que Ele é com e por você. Enquanto isso, não Se cansará de abençoá-lo. Assim como esteve todo tempo com Isaque, estará todo tempo com você.

Nada como um dia após o outro.

quinta-feira, outubro 25, 2012

Que injustiça!

Este é o texto de hoje: "Isaque formou lavoura naquela terra e no mesmo ano colheu a cem por um, porque o Senhor o abençoou. O homem enriqueceu, e a sua riqueza continuou a aumentar, até que ficou riquíssimo. Possuía tantos rebanhos e servos que os filisteus o invejavam. Estes taparam todos os poços que os servos de Abraão, pai de Isaque, tinham cavado na sua época, enchendo-os de terra. Então Abimeleque pediu a Isaque: "Sai de nossa terra, pois já és poderoso demais para nós". Então Isaque mudou-se de lá, acampou no vale de Gerar e ali se estabeleceu. Isaque reabriu os poços cavados no tempo de seu pai Abraão, os quais os filisteus fecharam depois que Abraão morreu, e deu-lhes os mesmos nomes que seu pai lhes tinha dado. Os servos de Isaque cavaram no vale e descobriram um veio d’água. Mas os pastores de Gerar discutiram com os pastores de Isaque, dizendo: 'A água é nossa!' Por isso Isaque deu ao poço o nome de Eseque, porque discutiram por causa dele. Então os seus servos cavaram outro poço, mas eles também discutiram por causa dele; por isso o chamou Sitna. Isaque mudou-se dali e cavou outro poço, e ninguém discutiu por causa dele. Deu-lhe o nome de Reobote, dizendo: 'Agora o Senhor nos abriu espaço e prosperaremos na terra" (Gn 26:12-22).

É sobre essa história que resolvi meditar e quero compartilhar essa meditação com você, porque eu estou convicta de que as leis do Senhor são universais. O que Ele ensina para um vale para todos. Então, semeio na sua vida o que o Senhor fala a mim hoje. Espero que você seja abençoado. Vamos lá.

Isaque era filho de Abraão, foi extremamente abençoado por Deus por causa de seu pai, mas não era apenas uma sombra dele. Ele era uma pessoa. Assim como Deus amou a Abraão, amou a Isaque e ama a mim e a você, porque Ele não faz acepção de pessoas. Espero que você não se canse de ler isso, mas que, assim como eu, esteja cada dia mais convencido de que Deus o ama. Ele não amou mais a Abraão, não ama mais àquele fulano rico que você conhece. Ele ama a todos plenamente.

Outro dia ouvi uma mulher dizer que Deus ama mais a uns do que a outros, porque dá mais a uns do que a outros. Disse a ela que discordo totalmente e que dinheiro não é prova de amor. A lei do dinheiro não é: quanto mais amor Deus tiver por você, mais dinheiro lhe dará. Mentira. A lei do dinheiro é: trabalhe, seja generoso, economize, seja fiel, administre bem... (Podemos conversar outro dia sobre esse assunto.) Já ouvi dizer que a prova de amor é dar. Quanto mais se ama, mais se doa e mais aberto se é para a doação. Deus provou de todas as maneiras que nos ama e não é preciso mais nenhuma outra prova: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5:8). Está provado. Porque Deus me ama, Cristo morreu por mim e ponto final.

Deus resolveu abençoar Isaque também com bens. Como diz o texto aí de cima: “O homem enriqueceu, e a sua riqueza continuou a aumentar, até que ficou riquíssimo” (Gn 26:13). Ah, que maravilha! Isaque ficou riquíssimo, então, seus problemas acabaram. É assim que a mulher que citei aí em cima pensa. Se tem dinheiro, não tem problema. Ledo engano. Quando as pessoas viram como ele estava enriquecendo, foram possuídas de um câncer chamado inveja: “Possuía tantos rebanhos e servos que os filisteus o invejavam (Gn 26:14).

Não é preciso ser rico para “merecer” a inveja de alguém. Em cada um de nós, Deus pôs algo muitíssimo especial. Uns são detentores de uma beleza estonteante, outros, de uma inteligência. Tenho certeza de que você tem algo invejável. Não sei o que é, mas você deve saber: simpatia, doçura, disposição, elegância, competência, dedicação, talento... Se você ainda não sabe o que faz de você uma pessoa única, é melhor perguntar ao Espírito Santo. Até modéstia tem limite. Olhe para as pessoas ao seu redor e depois ponha um espelho à sua frente e diga a você mesmo o que você tem de especial. É impossível que o Espírito Santo não o faça saber. No fundo, no fundo, sei que você sabe.

É terrível ter que lidar com a inveja dos outros, mas ninguém, absolutamente ninguém está livre. Olha só o que o livro de Provérbios diz sobre a inveja: “O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos” (Pv 14.30). Por inveja: venderam José do Egito, fizeram miséria com Paulo, afrontaram Moisés, conspiraram contra Davi, crucificaram a Jesus. Os exemplos são inúmeros.

Olhe só o que fizeram com Isaque por causa da inveja: “Estes taparam todos os poços que os servos de Abraão, pai de Isaque, tinham cavado na sua época, enchendo-os de terra” (Gm 26.15). Esses poços já tinha sido objeto de briga na época em que Abraão estava vivo, por isso o patriarca propôs um acordo com o mesmo Abimeleque da história de agora para que essa questão ficasse definitivamente resolvida: “Todavia Abraão reclamou com Abimeleque a respeito de um poço que os servos de Abimeleque lhe tinham tomado à força. Mas Abimeleque lhe respondeu: ‘Não sei quem fez isso. Nunca me disseste nada, e só fiquei sabendo disso hoje’. Então Abraão trouxe ovelhas e bois, deu-os a Abimeleque, e os dois firmaram um acordo” (Gn 21:25-27).

Sabe, amigo, é triste o que fazem contra nós por causa da inveja. Tenho certeza de que, de alguma forma, pelo menos uma de suas lutas tem a ver com a inveja. Não conheço ninguém imune. Mas a Palavra de Deus é o nosso remédio. Ela nos ensina tudo o que devemos fazer. Tomaram de Abraão, à força, um poço que era dele. Embora tivesse um poderoso exército e pudesse recuperar esse poço facilmente, Abraão deixou a história para lá e só trouxe à baila quando foi procurado por Abimeleque, tempos depois. Enquanto isso, viveu com o prejuízo.

Pode até parecer que você está perdendo, que está sendo um trouxa, mas se é possível deixar a questão para lá para manter a sua paz, esqueça o assunto. Se foi assim que um homem tão abençoado como Abraão resolveu a questão, por que não seguirmos o exemplo e fazermos o mesmo?

Isaque enfrentou o mesmo problema. Ele furava um poço, o povo entulhava. Furava de novo, o povo entulhava. Se entulhavam, é porque não precisavam daquele poço. É assim mesmo que agem alguns que querem tirar algo de nós. Muitas vezes nem precisam do que temos, mas não conseguem resistir à tentação de causar-nos sofrimento por pura inveja.

O câncer da inveja na vida de Abimeleque e de seu povo foi tão terrível que chegaram a pedir: "Sai de nossa terra, pois já és poderoso demais para nós" (Gn 26:16). Falo de novo: pode parecer injustiça, amigo, você ter de sair do seu lugar, onde já estava estabelecido, com uma vida confortável, só por causa dos outros. Você pode fincar o pé e dizer: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira” e ter de enfrentar uma guerra interminável. Ou pode também começar a chorar diante de Deus e dizer: “O Senhor não está vendo? Que injustiça! Prova para eles que eu estou certo”. Mas estou convencida de que é melhor seguir o exemplo de Abraão e de Isaque.

Teria muito a dizer, mas o post vai ficar grande demais e você pode não querer ler o final (rsrs). Olhe como termina a história: “Então Isaque mudou-se de lá, acampou no vale de Gerar e ali se estabeleceu” (Gn 26:17). Parece que o invejoso ganhou a batalha, não é mesmo? Errado. Você pode até se sentir totalmente derrotado, injustiçado, mas o mesmo Deus que enriqueceu a Isaque e o estabeleceu num lugar é poderoso para ajudá-lo a recomeçar e abençoá-lo ainda mais. Quando o motivo da guerra é a inveja, melhor “dar-se por vencido”. “O rancor é cruel e a fúria é destrutiva, mas quem consegue suportar a inveja?” (Pv 27.4). Repito: quem pode suportar a inveja?

Se Deus é por nós, e Ele é, recomeçar vai sempre nos fazer bem. O preço da paz nunca é alto demais.

quarta-feira, outubro 24, 2012

Adolescência espiritual

Eu costumava colocar um vídeo para a Juju assistir quando ela era bem pequenina, tinha pouco mais de um aninho. Na verdade, quem assistia era eu enquanto ela andava de lá para cá e eu torcia para que ficasse quietinha e eu pudesse descansar um pouco. A canção do vídeo dizia: “Papai sabe mais”. Hoje ela está adolescente. Tem pouco mais de doze anos. Está na fase da contestação, aquela em que quer mostrar a todos que tem suas próprias opiniões. E eu decidi que, nos assuntos pouco importantes, quando ela não concordar comigo, eu concordarei com ela. Estou disposta a ceder e valorizar suas opiniões.

Lembrei-me disso tudo por causa de uma história bíblica que estou lendo, de um personagem chamado Ló. Sua narrativa se resume a poucos capítulos. E ele é citado sempre como um adendo, uma parte da história do grande patriarca chamado Abraão. Era seu sobrinho, enriqueceu enquanto estava junto de Abraão, deu uma de espertinho quando os dois já não podiam morar juntos por causa da imensa riqueza que possuíam, escolhendo a melhor terra e deixando o “resto” para o tio. Precisou ser resgatado por ele quando virou prisioneiro de guerra. Teve uma história um pouco complicada, mas sua consanguinidade o livrou. “Quando Deus arrasou as cidades da planície, lembrou-se de Abraão e tirou Ló do meio da catástrofe que destruiu as cidades onde Ló vivia” (Gn 19:29). O texto merece realce: lembrou-se de Abraão e livrou Ló.

Como Deus é maravilhoso! Ele deixa claro todo o tempo em Sua Palavra que não tem compromisso com pessoas, mas com gerações. Ele não está envolvido só comigo. Desde que tem a mim, compromete-se com toda a minha família, com as minhas gerações. “Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo, tu e a tua casa” (At 16.31). Por causa de Abraão, salvou a Ló. Por causa de um servo de Deus, sua família é poupada e abençoada. Aleluia!

Acho que poderia classificar a Ló como um “adolescente espiritual”. E sabe por quê? Porque ele achava que sabia mais do que Deus, assim como muitos adolescentes pensam saber mais do que seus pais.

Passemos à história. Ló resolveu morar próximo de uma cidade terrível chamada Sodoma. A situação lá era tão cruel que não tinha mais jeito para eles. Era preciso destruí-la. Assim, Deus enviou anjos para fazê-lo. Neste ponto, lendo a narrativa, compartilho com você algo que aprendi na Palavra e muito me edificou: a “paciência” de Deus tem limite. Uso esse termo assim bem humano mesmo apenas para que você entenda. Na verdade, mais correto seria dizer que Deus é justo e que seu juízo tem prazo certo. “Ao raiar do dia, os anjos insistiam com Ló, dizendo: "Depressa! Leve daqui sua mulher e suas duas filhas, ou vocês também serão mortos quando a cidade for castigada" (Gn 19:15). Se Ló não corresse, chegaria a hora da destruição e ele morreria junto. Foi necessário que os anjos tomassem a Ló pela mão para tirá-lo de lá. Quase que sobra para ele. Isso mostra que a destruição tinha hora marcada. Eles não esperariam até que Ló decidisse obedecer.

Em vários textos da Bíblia, o Senhor nos fala sobre o cálice da ira de Deus, sobre um dia certo de julgamento: “Quando se completarem os setenta anos, castigarei o rei da Babilônia e a sua nação, a terra dos babilônios, por causa de suas iniquidades’, declara o Senhor, ‘e a deixarei arrasada para sempre” (Jr 25:12); “Então o Senhor lhe disse: "Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não lhes pertencerá, onde também serão escravizados e oprimidos por quatrocentos anos” (Gn 15:13).

Paro agora para trazer a você uma palavra de ânimo. Não sei se você é vítima de alguma injustiça, se tem perguntado ao Senhor quando é que Ele se levantará a seu favor e fará a tão almejada justiça, mas preciso informá-lo de que: primeiro, é certo que Deus fará justiça; segundo, que há um prazo certo para isso acontecer. Nós pais costumamos dar chances aos nossos filhos. Dizemos: “Desta vez, você não vai ser disciplinado, mas não repita isso, senão...”. Deus age da mesma maneira: “Na quarta geração, os seus descendentes voltarão para cá, porque a maldade dos amorreus ainda não atingiu a medida completa (Gn 15:16). Para disciplinar os amorreus, povo que escravizou os hebreus, era necessário que sua iniquidade atingisse a medida completa, o que aconteceria, pela presciência de Deus, dentro de quatrocentos anos. Deus não falha. A justiça vem; está a caminho, basta completar-se o prazo de tolerância.

Voltemos a Ló. Achei muito interessante perceber que ele, em certo momento, pensou saber mais do que Deus. Quando os anjos o fazem sair da cidade, dizem a ele: "Fuja por amor à vida! Não olhe para trás e não pare em lugar nenhum da planície! Fuja para as montanhas, ou você será morto" (Gn 19:17). Deus não nos mandaria ir a algum lugar que não fosse o melhor para nós naquele momento. Mas Ló não creu assim: “Ló, porém, lhes disse: "Não, meu senhor! Seu servo foi favorecido por sua benevolência, pois o senhor foi bondoso comigo, poupando-me a vida. Não posso fugir para as montanhas, se não esta calamidade cairá sobre mim, e morrerei. Aqui perto há uma cidade pequena. Está tão próxima que dá para correr até lá. Deixe-me ir para lá! Mesmo sendo tão pequena, lá estarei a salvo" (Gn 19:18-20). Indiretamente Ló estava dizendo: “Senhor, ali tem um lugar muito melhor do que aquele para onde queres me mandar”. Isso não é incrível!

Muitas vezes agimos assim com Deus: “Senhor, me mandas perdoar porque não sabes o que estou passando; não estás vendo as minhas dificuldades?; Tu me destes só isso aqui e para com o fulano agiste com mais bondade”... Quantas vezes não nos chateamos com a “injustiça” de Deus, com o fato de Ele não fazer justiça do nosso jeito, no nosso tempo, como se soubéssemos qual é o tempo de cada coisa! Somos misericordiosos a ponto de dar várias chances aos nossos filhos, mas não admitimos que Deus dê várias chances aos Seus.

Na “santa adolescência” de Ló, foi atendido. O anjo permitiu que fosse se refugiar em Zoar, a pequenina cidade da qual ele falou. "Está bem", respondeu ele. ‘Também lhe atenderei esse pedido; não destruirei a cidade da qual você fala” (Gn 19:21). E o que aconteceu? Passou apuros lá. “Ló partiu de Zoar com suas duas filhas e passou a viver nas montanhas, porque tinha medo de permanecer em Zoar. Ele e suas duas filhas ficaram morando numa caverna” (Gn 19:30).

Deus é um Pai bondoso. Ele quis poupar Ló dos apuros que passou, por isso avisou: “Vá para as montanhas”. Ele respondeu: “Prefiro a cidadezinha”. Mas depois teve de admitir: “Senhor, reconheço que era melhor ir para as montanhas”. Dureza. Precisou sofrer em Zoar para aprender.

Se soubesse o nome do vídeo a que a Juju assistia, divulgaria aqui para cantarmos juntos – e eu mais alto do que todos –: “Papai sabe mais”!

terça-feira, outubro 23, 2012

A Manchete

Todo jornal traz estampado na primeira página, em letras garrafais, o assunto mais importante do dia. E numa fonte um pouco menor, outras e outras notícias seguem. Aquela chamada principal nos avisa que há alguma questão sobre a qual precisamos nos inteirar. E, ainda que seja uma máxima a imparcialidade, esta é impossível, pois ninguém é capaz de falar sobre algum assunto sem, de alguma maneira, incluir algo de si mesmo, emitir alguma posição, ainda que bem disfarçadamente ou até mesmo sem querer.

Tenho acompanhado os assuntos do mundo gospel. Dia após dia, são mensagens e mensagens. E tenho notado que o assunto recorrente é como viver melhor aqui na terra. Não é um assunto ruim, não. O Evangelho é uma proposta completa: melhora a vida aqui e agora e garante a vida eterna. Mas estranha-me o fato de estarmos tão pouco preocupados com a vinda de Jesus, com a questão mais séria da existência humana: somos eternos e passaremos essa eternidade em algum lugar que não esta terra – na verdade, na nova terra: “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 21:1-3).

Eu mesma não me lembro de ter abordado o assunto da segunda vinda de Cristo aqui neste blog mais de uma ou duas vezes. Também fico imersa em assuntos desta vida, afinal, tudo tem sido tão intenso, são tantas ocupações, tantas preocupações, que precisamos de um freio. Então hoje decidi ser o meu e o seu freio.

Há uma vida em abundância para ser vivida aqui e agora. Leia este texto: “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10:10). Outro dia, ouvi uma pessoa comentar esse texto, dizendo que essa vida em abundância é para ser usufruída no céu. Errado, completamente errado. Veja o contexto do versículo. Começa falando de alguém que veio para nos roubar, nos matar e nos destruir. Onde isso é possível? Somente aqui. Ninguém será capaz de nos matar, nos roubar ou nos destruir no céu. Lá não entrará ladrão. O texto está falando da vida aqui mesmo e completa dizendo que Jesus veio para nos dar uma vida abundante no mesmo lugar onde o ladrão quer roubar essa vida abundante. Onde? Aqui, é claro.

Pena que estejamos tão preocupados com essa vidinha aqui, de, no máximo, cento e poucos anos, enquanto uma eternidade que nos espera está sendo construída por nós dia a dia. “Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele [é louco] que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc 12:20-21). Não sei se você prestou atenção no texto, mas ele fala sobre sermos ricos para com Deus. Diz que algumas pessoas são ricas para com Deus e outras não o são. Gostaria de conversar com você um pouco sobre isso.

Estamos construindo a nossa eternidade, que está cada dia mais próxima. E como o fazemos? Por meio de obras. O que fazemos está sendo levado em consideração no céu e, quando estivemos diante de Deus, essas obras se transformarão em galardão, ou seja, presentes, recompensa: “E, se alguém sobre este fundamento [Jesus] formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão” (I Co 3:12-14).

Se não fosse importante ser rico para com Deus, Jesus não teria abordado o assunto. Ele quer que sejamos ricos para com Deus, que tenhamos lá um bom depósito. Paulo sabia disso, tinha uma “poupança” no céu que ninguém era capaz de roubar, por isso disse: “Por cuja causa [pela causa de Cristo] padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (II Tm 1:12).

O capítulo do dia de hoje, Provérbios 23, traz um bom conselho para nós: “Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia” (Pv 23:4-5). Em outras palavras, não se canse buscando apenas as coisas desta terra. “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos [para este mundo], e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3:2-3).

Jesus está voltando. Nosso tempo está se esgotando. Talvez você tenha lido ou ouvido falar sobre o livro de Apocalipse e a mensagem tenha parecido tão distante, tão distante que você nem considera que Jesus está voltando. Quem fala sobre isso? Que igreja prega essa mensagem? Aproveito para abrir um parêntese, se me permite. Às vezes, os estudos que ouvimos sobre Apocalipse são tão teóricos, tão desprovidos da unção de Deus, que depois de n aulas não temos uma gota de vontade de dizer: “Maranata, ora vem, Senhor Jesus”! Ah, quem dera todos soubéssemos como será gloriosa a nossa vida com o Senhor, o nosso corpo glorificado, o mundo livre de doenças, misérias, disputas, dores! Precisamos ansiar por isso. “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8:18). Há uma vida tão gloriosa esperando por nós que esta vida abundante de aqui e agora nem pode ser chamada de vida: “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21:4). “Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” (Ap 21:7).

Volto ao assunto dos jornais. Como gostaria de ouvir em todas as igrejas, de ver estampado em muitos sites as revelações embasadas da Palavra sobre o que nos aguarda! Será tão glorioso, tão glorioso nos encontrarmos com Jesus, cearmos com Ele, morarmos com Ele, vivermos com Ele e para Ele que não deveríamos, nem por um segundo, desejar que Ele não voltasse.

Preciso terminar este post. Mas não sem antes dizer que, mesmo que você considere demorada a volta de Jesus – “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pe 3:9) – está cada dia mais próximo. Maranata! Maranata! Ainda que você a tenha por tardia, quero lembrá-lo que cada dia estamos mais próximos de sermos buscados por Ele. Não sabemos quantos dias ainda temos pela frente. Podemos ir hoje, amanhã, semana que vem, ano que vem, daqui a dez anos. Certo mesmo é que a hora virá e de repente. É bom que, durante este tempo, neste dia que se chama hoje, cresçamos em intimidade com Deus, semeemos o bem, nos empenhemos em sermos ricos para com Deus.

Deus nos ama e preparou para nós uma eternidade gloriosa que poderá “começar” a qualquer momento. Prepare-se. Não perca tempo, não viva de forma desprevenida, não se deixe ser pego de surpresa. “Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais” (Lc 12:39-40). Maranata! Ora vem, Senhor Jesus!

Encerro com a manchete de hoje: JESUS VEM BREVE. PREPARE-SE!

segunda-feira, outubro 22, 2012

Desligue o piloto automático

Imagino que você também já tenha vivido a experiência de sair de casa sem saber se desligou o ferro elétrico ou o fogão, se trancou a porta, se acendeu ou apagou luzes. Também imagino que algum dia já se viu dirigindo por uma estrada que não era a do local aonde deveria ir. Meu marido chama isso de andar no automático.

Nós nos acostumamos com muita coisa. Por isso, fazemos as coisas sem nem saber por que, como, pra quê. Vamos internalizando comportamentos, transformando em hábitos e nos esquecemos de refletir. Assim, muitas vezes o nosso corpo está em um lugar onde nossa mente não está de fato. Deixamos o tempo passar e nem nos apercebemos de que ele não vai voltar.

Toda essa introdução é para trazer o assunto que quero abordar, uma experiência maravilhosa de um cego. A forma como a Bíblia se refere a ele é um tanto quanto chocante: “E, saindo ele [Jesus] de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando" (Mc 10:46). O nome do homem era Bartimeu. Seu estigma, ser cego. Seu defeito físico era a melhor forma de defini-lo. Quem era? Bartimeu. Qual Bartimeu? O cego.

Uma das coisas que acho impressionante ver e que tenho me empenhado em mudar é a qualificação que dou as pessoas. Isso tem começado na minha própria casa. É muito difícil ver alguém ser reconhecido por seu talento, por aquilo que tem de bom. Na maioria das vezes, as pessoas são conhecidas por serem: aquele gordinho, aquela magrela, aquela zarolha, aquele folgado, aquele gago, aquela fofoqueira. Quantas pessoas você conhece que são chamadas assim: aquela inteligente, aquele talentoso, aquela bondosa, aquele trabalhador? Meu marido tem um “estigma” que eu amo e ele também. As pessoas falam com ele como se estivessem fazendo uma gozação, mas ele recebe o nome e se alegra cada vez que ouve. O sobrenome dele é Vilas Boas e as pessoas o chamam de “vida boa”. Sabemos que alguns o fazem como se fosse uma chacota, mas é, para nós, uma denominação extremamente agradável. Sorrimos e amamos o apelido, embora saibamos que alguns o fazem na malícia.

Bartimeu estava cercado de pessoas. Jesus não tinha ido falar com ele, estava apenas passando e com um cortejo grande, imagino. Mas isso não importava para ele, contanto que se fizesse visto pelo Mestre. Então ele começa a gritar. Faz o possível para ser notado, enquanto o povo o manda calar a boca. “E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: 'Filho de Davi! tem misericórdia de mim” (Mc 10:48). Esse comportamento do cego me chama muito a atenção. Quantas vezes não deixamos a bênção passar de nós pela pressão dos outros ou por vergonha mesmo! E ainda dizemos: “Mas ele não me viu; ele não veio aqui por minha causa; ele não me cumprimentou; ele nem sabe que eu existo”. Bartimeu podia ter se resignado e deixado Jesus passar. Podia ter esperado uma nova oportunidade em que Ele não estivesse assim tão cheio de companhias. Podia ter deixado para a próxima, mas não deixou a oportunidade passar. Não importava quantas vezes ouviria as pessoas dizendo para se calar. Decidiu se fazer ouvir. Não foi Jesus quem o notou; foi ele que chamou a atenção do Salvador.

Ainda há um fato interessante na forma como se fez ouvir. Enquanto todo mundo gritava: Jesus, Jesus de Nazaré, ele chamou a atenção do Mestre de uma forma diferente: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Mc 10:47). Chocante isso. Só pode ter sido o Espírito Santo quem revelou a ele a descendência de Jesus. Não se ouve nos evangelhos Jesus mesmo dizer dEle que era o Filho de Davi. Foi um grito de revelação, um grito diferente que fez Jesus parar. A fé de Bartimeu abriu para ele a porta da revelação, deu a ele a chave para se fazer notar. Enquanto todos conheciam o Jesus da cidade de Nazaré, a ele foi revelado o Jesus Filho de Davi, Salvador do mundo, o Messias por quem todos esperavam. Quem contou ao cego que aquele era o Filho de Davi, uma designação profética do Messias? Só pode ter sido o Espírito Santo. Que revelação! Como Jesus não ouviria um grito desses?

Não vou continuar a história, mas você pode ler no livro de Marcos, porque há muitas revelações ali. Quero terminar o post comentando algumas coisas.

Hoje ainda temos a oportunidade de desfrutar de Jesus aqui e agora, mas ainda O deixamos passar despercebido. Depois reclamamos. Vamos aos cultos, entramos nos nossos momentos devocionais ligados no piloto automático. Quantas vezes não terminamos a nossa oração sem sequer saber o que mesmo nós dissemos? Quantas vezes não conseguimos nos lembrar dos cânticos que entoamos no culto do dia anterior? Se eu perguntasse a você qual foi o texto da mensagem que ouviu no último culto saberia dizer o endereço do texto que embasou? Repetimos frases poderosas, mas vazias de significado na nossa boca. Estão inseridos, nas nossas orações, versículos incapazes de produzirem efeito na nossa própria vida, porque vêm desacompanhados da fé, e sem fé é impossível receber de Deus qualquer coisa: “Peça-a [sabedoria], porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa” (Ti 1:6-7).

Quem está decidido em obter de Deus alguma coisa precisa ter uma atitude correspondente à fé. Como diz, e muito bem, o livro de Tiago: a fé sem obras é morta. Crer sem agir não tem efeito. Dizer: “Deus vai fazer, Deus pode fazer” sem cooperar com Ele é tolice.

Por outro lado, quem tem fé suficiente para se fazer visto, para gritar até merecer a atenção, para enfrentar uma multidão para chegar até Jesus não sairá de Sua presença sem obter o que espera. Podemos extrair de Deus o que desejamos assim como uma mulher que sofria de uma hemorragia conseguiu extrair de Jesus poder: “E disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude” (Lc 8:46). A mulher extraiu virtude de Jesus, ou seja, ela sugou do Seu poder.

Podemos andar no piloto automático e precisar fazer um esforço fora do comum para nos lembrarmos do dia anterior, do que fizemos semana passada, da última vez que aconteceu algo inesperado, ou podemos sair do piloto automático e extrair do Senhor virtude para cada dia, chamando a Sua atenção, clamando por ele. Para isso, será preciso enfrentar a multidão, sair da zona de conforto, desprezar aqueles que querem nos tirar do foco e desistir daquele sentimento de pobre coitadinho para quem nada acontece.

Convido você a desligar o piloto automático e ir à luta. Deus está disponível agora. Clame por ele!

terça-feira, outubro 16, 2012

Pessoa agradável

Posso afirmar que amo minha família hoje muito mais do que em qualquer outra época da minha vida. Jamais pensei que fosse possível o amor crescer tanto. Como quero facilitar a vida dos meus filhos, ver meu marido feliz e realizado, meus pais, meus irmãos, toda a minha parentela bem, com saúde! Se eu, uma pessoinha tão limitada, consigo amar tanto, como não será o amor de Deus?

Certamente no final dos bons anos que o Senhor me permitirá viver, estarei amando ainda muito mais. Não sei se o amor cresce ou amadurece, sei que ele se torna mais forte e perceptível a cada dia. E sei também que ele jamais será pleno e completo como o amor de Deus enquanto eu estiver neste corpo mortal, porque ele não suporta. Este corpo é limitado, temporal, frágil. Mas um dia serei totalmente preenchida da plenitude de Deus e eu O verei e serei como Ele é – esta é a promessa que tenho na Escritura: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (I Co 13:12).

Deus é pleno, por isso ama em toda a totalidade. Não é possível que ame mais, não é possível que ame menos, porque Ele não muda: “Em quem [Deus] não há mudança nem sombra de variação” (Ti 1:17). Deus não tem filhos prediletos, não faz acepção de pessoas – “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34). A Bíblia diz, em seu texto magistral: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Ela poderia dizer que Deus amou de tal maneira os judeus, reconhecidamente Seu povo, detentores da lei e dos profetas. Mas não é assim. Deus amou o mundo, onde estão incluídos você, eu, meus filhos, os que já vieram, os que virão.

Digo tudo isso para compartilhar um pouquinho do que veio ao meu coração hoje. Estava lendo o Salmo 6, um salmo triste. Davi estava perdendo a guerra, esmagado pelos inimigos, numa tristeza profunda. Por isso chegou a dizer: “Já estou cansado do meu gemido, toda a noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas, já os meus olhos estão consumidos pela mágoa, e têm-se envelhecido por causa de todos os meus inimigos” (Sl 6:6-7). É um salmo de lamento. Ele estava na iminência de ser morto – “Volta-te, Senhor, livra a minha alma; salva-me por tua benignidade. Porque na morte não há lembrança de ti; no sepulcro quem te louvará”? (Sl 6:4-5). Esses versículos dão a extensão da dor de Davi.

Não vivemos uma época de guerras, mas isso não quer dizer que o mundo está mais agradável. As batalhas hoje são diferentes, diárias, duras. As doenças do século são emocionais. O nosso interior tem sido esmagado diante de uma realidade ilusória. Precisamos ter para sentir o nosso valor. Competimos todo tempo, almejamos suplantar uns aos outros. Estamos rodeados de pessoas, mas sós; cheios de amigos no Facebook, mas sem ninguém para conversar face a face. Quando se poderia imaginar que alguém exporia 24 horas da sua vida para milhões de pessoas muitas vezes a troco apenas da fama? Muitos competem, mas só um leva o prêmio. As pessoas estão cada vez mais solitárias.

Quando enfrentamos batalhas como as de Davi, frequentemente nossa fé é abalada. Costumamos perguntar: onde estás, Senhor? Não estás vendo? Não te importas? E Davi fazia as mesmas perguntas. No Salmo ele diz: “Até a minha alma está perturbada; mas tu, Senhor, até quando?” (Sl 6:3). Essa declaração nos dá a impressão de que a fé dele está titubeando, até que lemos os seguintes versos: “Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniquidade; porque o Senhor já ouviu a voz do meu pranto. O Senhor já ouviu a minha súplica; o Senhor aceitará a minha oração” (Sl 6:8-9). Veja que ele diz duas vezes: o Senhor já ouviu.

Tais declarações, enquanto eu lia, me fizeram lembrar o texto lá de Hebreus: “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11:6). Sabe por que Davi era uma pessoa segundo o coração de Deus, alguém agradável a Ele? Porque independente do que estivesse passando, de quão profunda fosse a crise, do tamanho do risco a que estivesse submetido, Ele confiava. Ele tinha uma fé firme, profunda. Por mais que “reclamasse” nos salmos, sempre encontramos um versículo em que ele reafirma a sua fé. Na verdade, o “reclamar” de Davi significava clamar de novo e de novo.

Outro dia estava conversando com uma mulher que me dizia quão injusto Deus é. E sabe por que ela chegou a essa conclusão? Porque está passando por problemas financeiros. Gostaria muito de aconselhá-la, mas ela sempre me deixou claro que quer apenas desabafar; quer falar, mas não ouvir. Nos meus pensamentos, eu falava com Deus: “Pai, revela-Te a ela. Ela ainda não sabe quem és”.

Deus é bom. As circunstâncias não são, o mundo não é, mas faz parte da essência de Deus ser bom, ser amoroso. É a justiça de Deus que não permite que Suas leis sejam invalidadas, por isso, o que plantarmos colheremos. Mas podemos, em todos os momentos, bons ou maus, clamar por Sua ajuda com a plena certeza de que Ele já nos ouviu, como disse Davi. Deus nos ouve. Deus nos ouve. Aleluia!!!

Amo este versículo aqui: “E será que antes que clamem eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei” (Is 65:24). Esse texto diz da salvação que o Senhor providenciaria quando o Seu povo voltasse do cativeiro. E olha o que nos revela acerca dos nossos filhos: “Não trabalharão inutilmente, nem gerarão filhos para a infelicidade; pois serão um povo abençoado pelo Senhor, eles e os seus descendentes” (Is 65:23). Essa promessa é minha e sua. Todas as promessas da Palavra são para nós, os que as quisermos. Somos herdeiros de Deus.

Deus é digno de toda confiança. Apoie-se nele sempre. Confie no Senhor de todo o seu coração. Filhos de Deus podem passar pela sombra da morte, mas Ele está sempre junto e nos protege: “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem (Sl 23:4). Nunca o deixarei, nunca o abandonarei (Hb 13:5). Querendo mostrar de forma bem clara a natureza imutável do seu propósito para com os herdeiros da promessa, Deus o confirmou com juramento, para que, por meio de duas coisas imutáveis nas quais é impossível que Deus minta, sejamos firmemente encorajados, nós, que nos refugiamos nele para tomar posse da esperança a nós proposta” (Hb 6:17-18).

Confie no Senhor. O que Ele diz que faz faz mesmo; quando promete, cumpre; não volta atrás jamais; é impossível que minta. Não pense que Deus é como os homens. “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” (Nm 23:19).

Creia sempre. Mergulhe na Palavra de Deus e descubra quanta riqueza há ali para nós todos. E relembre o Senhor de suas promessas. “Ó vós, os que fazeis lembrar ao Senhor, não haja descanso em vós, nem deis a ele descanso, até que confirme [Sua Palavra], e até que ponha a Jerusalém [a nós, Seu povo] por louvor na terra (Is 62:6-7).

Deus é digno de toda confiança. Aleluia!

Sem fé, é impossível agradar a Deus; com fé, nos tornamos agradáveis. Que tal se tornar uma pessoa mais agradável?

sábado, outubro 13, 2012

Boa nova ou prenúncio do caos?

Tenho ouvido muitas pregaçōes na Internet e vejo que uma das tônicas é a mudança pelo sofrimento.  Um dos textos sobre o qual muitos falam é este aqui: "Agora eu me sinto feliz pelo que tenho sofrido por vocês. Pois o que eu sofro no meu corpo pela Igreja, que é o corpo de Cristo, está ajudando a completar os sofrimentos de Cristo em favor dela. (Cl 1:24). Dizem que os crentes precisam tomar a sua cruz, negar-se a si mesmos, o que é totalmente verdadeiro. Mas esse sofrimento ao qual se referem é um sofrimento buscado, enfatizado na palavra "morra".

Na maioria das vezes em que tive a oportunidade de ouvir mensagens assim, a vontade que tinha era de chorar. Parece que é tão difícil, tão difícil seguir a Jesus, que o que Ele exige de nós é tão pesado, que não     pensava ser capaz. Soava muito alto a frase: "Você precisa morrer para você mesmo, você precisa morrer para você mesmo". E eu ainda penso: como posso dar essa "boa nova" ao pecador?

Na verdade, já morri quando aceitei a Jesus, fui sepultada com Ele pelo batismo e ressuscitada com Ele para uma nova vida: "E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade;  no qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo.  Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos.  E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,  havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz" (Cl 2:10-14)

Ouço um evangelho de palavras duras. Sinceramente, se enviasse alguns vídeos dos que vejo a descrentes, eles odiariam. Onde está a boa nova? Quem nos fez mensageiros do caos?

Também não acredito nesse evangelho da vida fácil, do milagre que está à minha procura, da prosperidade que me enche das "coisas excelentes" de marcas cujo preço é escorchante, do entretenimento que diverte, mas não leva ninguém a amar mais a Deus.

Tenho um grande amigo com quem convivi na adolescência que me impressionava muito. Ele era muito aberto a mudanças, além de muito namorador. Era intenso, muito intenso quando se apaixonava. Lembro-me de quando ele namorou uma menina natureba e eu o vi comendo arroz com vinagrete e feijão tropeiro num churrasco. Perguntei por que não estava comendo a carne e me respondeu que também tinha virado natureba. Um dia eu o vi lavando seu carro ouvindo música sertaneja no último volume, ele, que odiava música sertaneja. Entendi que estava namorando uma "cowgirl". Apesar de crente, frequentou micarês. E tudo isso porque estava apaixonado.

O que tem isso a ver com o que estava a dizer? Acredito firmemente na única força capaz de mudar eficazmente uma pessoa, não por obrigação, não por religiosidade, não por legalismo. É a força do amor.

Sabe qual a mensagem que quero transmitir ao mundo? "Porque Deus nos ama de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). "E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo" (Jo 17:3).

Recentemente ouvi um pastor pregar sobre a cruz de Cristo. Ele falava sobre como foi duro para Jesus e para nosso Pai enfrentarem a cruz, sobre quão grande e quão poderoso é o amor de Deus por nós e fui profundamente tocada. E quanto mais ouço sobre o amor de Deus, quanto mais leio a Sua Palavra, mais me apaixono por Ele, mas desejo conhecê-lo, andar com Ele, melhor me sinto na Sua presença, sabendo que Ele me quer, a mim: imperfeita, inadequada, imatura, rebelde às vezes, arrogante ainda, cheia de mim mesma, mas Ele me ama. Eu Keila sou tudo isso - era, na verdade. Mas Ele, que vive em mim, me deu Seu nome, Seu sangue, Sua identidade, Seu poder, Sua herança, Seu próprio Pai e hoje, sou cada vez menos Keila e cada vez mais Ele:"Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim" (Gl 2:20).

Esse amor que Ele me ofereceu gratuitamente e que eu tenho entendido e recebido cada dia mais tem-me transformado. Em vez de "morrer, morrer e morrer para mim", estou concentrada em "viver, viver e viver para Ele". Esqueço-me da minha incapacidade e concentro-me no Seu poder; esqueço-me da minha inadequação e aceito o Seu amor sem questionar. Mudo porque O amo e não quero jamais decepcioná-lo. Permito que Ele me aperfeiçoe. Paro para ouvi-lO, aprendo a ser grata e a viver contente em toda e qualquer situação e compartilho do amor de um Deus sem qualquer comparação.

Enquanto não estivermos nos apaixonando cada dia mais por Jesus, toda mudança operada pelo nosso próprio esforço será temporária e ineficaz. Quando compreendemos o amor de Deus, nos convencemos de que o que Ele nos pede para fazer e para não fazer é simplesmente por nos amar e tem como foco apenas e unicamente o nosso bem - "Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos" (I Jo 5:3). Permita-me escrever novamente este texto para que você preste ainda mais atenção nele: "Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são penosos".

Deus nos ama demais e não está esperando pelos nossos grandes sacrifícios. Ele quer a nós. Éramos Seus inimigos e Ele nos amou e não quer que andemos com a postura de pequenos derrotados que sabem que, por mais que façam, nunca são bons o suficiente. Só na glória seremos bons o suficiente. O sacrifício de Jesus foi completo, suficiente, perfeito e eficaz: "Mas quando este sacerdote acabou de oferecer, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus.  Daí em diante, ele está esperando até que os seus inimigos sejam colocados como estrado dos seus pés;  porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados" (Hb 10:12-14). Ele pagou todo o preço, cumpriu toda a justiça: "Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu;  e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem" (Hb 5:8,9).

Não se sinta condenado: "Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade" (Hb 4:16).

Estou plenamente convencida de que não preciso de mais regras acerca do "não faça, não prove, não toque, morra". "Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo,  tais como: não toques, não proves, não manuseies?" (Cl 2:20, 21). Preciso mesmo é me apaixonar cada dia mais por Ele! "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele" (Jo 14:21).

Quero terminar o texto de hoje com o texto que define a mensagem que devo levar: boa nova e não prenúncio do caos. "O Senhor Deus me deu o seu Espírito, pois ele me escolheu para levar BOAS NOVAS aos pobres. Ele me enviou para animar os aflitos, para anunciar a libertação aos escravos e a liberdade para os que estão na prisão. Ele me enviou para anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo, que chegou o dia em que o nosso Deus se vingará dos seus inimigos. Ele me enviou para consolar os que choram, para dar aos que choram em Sião uma coroa de alegria, em vez de tristeza, um perfume de felicidade, em vez de lágrimas, e roupas de festa, em vez de luto.
Eles farão o que é direito; serão como árvores que o Senhor plantou
para mostrar a todos a sua glória" (Is 61:1-3).

Termino repetindo o que já disse: que todos os que conviverem comigo saiam da minha presença mais felizes, mais animados, mais edificados, mais apaixonados por Deus!




terça-feira, outubro 09, 2012

Deus é Pai!

Dizem que só têm direito às melhores coisas os melhores. Se há uma palavra que move muita gente é esta: melhor. Não sei por que temos que ser excludentes: eu e mais ninguém. Não entendo por que temos que competir. E essa história vem de séculos.

Um dia os discípulos começaram a se preocupar com sua posição no reino de Deus. O que eles queriam saber era como fazer para ser o melhor: "Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: 'Quem é o maior no Reino dos céus?' Chamando uma criança, colocou-a no meio deles,  e disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus" (Mt 18:1-3).

A competição não é de hoje. Esse negócio de quem é o maior, quem é o melhor, quem ganha mais é lamentável. O que ganha mais é o melhor? Ser o melhor garante o casamento mais feliz, mais sucesso na família, menos trabalho e mais prazer? Dificilmente. O que faz tudo funcionar na nossa vida não é a nossa posição, mas a nossa parceria com o Espírito Santo de Deus. A menos que não O atrapalhemos, será realizada a vontade boa, perfeita e agradável de Deus para nós.

Enquanto os discípulos perguntavam quem era o maior, Jesus iu com uma resposta impressionante: o reino de Deus não é dos maiores, mas dos que são como as crianças. Que declaração impressionante! Mais uma vez meu coração se enterneceu com a bondade de Deus. O amor dEle por nós é extraordinário mesmo!

Eu ainda não havia entendido o que Jesus queria dizer quando mandou que nos tornássemos como uma criança. Sempre pensei que o principal dessa passagem era que fôssemos perdoadores como as crianças, mas é muito mais do que isso. Esse versículo é libertador: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus" (Mt 18:3).

Falemos sobre as crianças. Crianças dão trabalho, muito trabalho. E não se espera que seja diferente. Precisam ser acompanhadas o tempo todo, vigiadas bem de perto, senão aprontam. Dizem que ter filho é "padecer" no paraíso. Alguns engraçadinhos dizem que é "pra descer" do paraíso. Brincadeiras à parte, é canseira, trabalho braçal até.

Crianças são teimosas. A própria Bíblia afirma isso: "A estultícia está ligada ao coração do menino, mas a vara da correção a afugentará dele" (Pv 22.15). A curiosidade da criança é maior do que seu desejo de obedecer. Por mais que você diga "não", basta deixar sem vigilância para ela pintar o sete, o oito, o dezoito.

Crianças precisam ser treinadas, porque lhes falta malícia, experiência, sabedoria. Você precisa ensiná-las o tempo todo, com insistência e sem descanso. Mandamos escovar os dentes e precisamos conferir o trabalho. São poucas vezes que não é preciso fazê-las voltar. Têm que ser mandadas constantemente: "Faça isso, faça aquilo. Já fez? Deixe-me conferir". Só acompanhando de pertinho.

Crianças são birrentas, insistentes, choronas, levadas. Sabe por que estou colocando apenas essas características ruins? Para que você se sinta tão livre quanto eu com essa informação. Deus espera de nós muito menos do que imaginamos. Ele sabe que somos teimosos, que vamos dar muito trabalho, que confiar não é tão simples quanto parece e nem tão fácil, que nossos desejos são muito mais fortes do que a vontade de obedecer quase sempre. Ele sabe que somos insistentes em algumas coisas que nem são tão boas, que somos infantis na hora de fazer-Lhe pedidos. Pedimos tantas coisas das quais não precisamos e tantos presentes que, se recebermos, irão nos destruir! Deus sabe que precisamos de um treinamento constante e paciente. O Senhor sabe que precisamos de vigilância todo tempo. Não é maravilhoso saber disso?

Tem muita gente por aí falando de um Deus que não existe: um ser carrancudo, nervoso, pronto a punir, mal-humorado, grosseiro. Deus nunca foi e nunca será assim.  Deus disse: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem" (Sl 103.13). Deus é o nosso Pai. E não é qualquer pai. É um Pai amoroso, compassivo, doce, terno, cheio de misericórdia, paciente, cheio de grandes expectativas acerca de Seus filhos. Aleluia! 

Sabe por que Deus tem grandes expectativas a nosso respeito? Porque conhece o nosso potencial, sabe que somos parecidos com Ele. E apesar de Suas expectativas, aceita com paciência nossa infantilidade, que Lhe é até agradável: "Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó" (Sl 103:14). Deus é um Pai infinitamente melhor do que nós, que lutamos tanto para sermos bons: "Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem"? (Lc 11:13).

Deus quer que sejamos como crianças: total e completamente dependentes do Pai, tranquilas em relação ao futuro, às próprias necessidades. Crianças confiam na capacidade de seus pais de cuidar delas (estou falando de crianças que têm uma boa família, como Deus planejou). Crianças não passam a noite acordada com medo de não ter leite de manhã. Vivem um dia após o outro e se divertem enquanto a vida passa.

Não aceite o peso das exigências que querem colocar sobre você. Deus é infinitamente melhor do que qualquer pai que você conheça. E está sempre pronto para nos estender a mão, para nos ensinar, nos alimentar, cuidar de nós com muito amor.

Verdadeiramente Deus é Pai.


segunda-feira, outubro 08, 2012

Delícia

Desta vez começo com o texto da meditação:

Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários! São muitos os que se levantam contra mim. Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus. Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou. Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam. Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios. A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção (Sl 3:1-8).

Esse texto falou muito ao meu coração hoje. Ainda estou meditando nele, impressionada com o que Davi diz aqui.

Nas Bíblias em que os capítulos têm títulos e comentários está informado que o Salmo aí de cima foi escrito quando Davi fugia por conta da traição de seu filho Absalão. O palácio foi invadido, ele posto para fora. Se encontrado, seria morto. Muitos do que eram pelo rei agora eram contra ele. Em meio a um tempo deprimente, Davi resolve orar e registrar sua oração.

A dor sempre motivou Davi a buscar a Deus. Não sei como você age nos momentos em que tudo parece dar errado, em que você fica profundamente decepcionado com as pessoas ou até mesmo com Deus por não ver as coisas como esperava. Muitos se afastam, perdem a vontade de orar, de ler Bíblia, de ir à igreja. Mas Davi não era assim. Ele corria para Deus e expunha o seu problema. Às vezes, dizia coisas inimagináveis, mas sua sinceridade foi digna de muitos capítulos da Bíblia. Os Salmos que escreveu são um incentivo para nós. Revelam que podemos abrir o coração para Deus, dizer o que vier à mente, pois aquEle que nos sonda sabe o que há dentro de nós e nos ouve com amor e com paciência. Mesmo que digamos coisas que não Lhe agradam, Ele é misericordioso, compassivo e perdoador e não nos trata segundo as nossas iniquidades, mas segundo a multidão, repito: multidão das suas misericórdias. Deus é bom!!! 

A primeira declaração de Davi neste Salmo é para informar ao Senhor que o número dos contrários havia aumentado muito. Ele tinha noção do que estava enfrentando, estava atento aos fatos. Não mascarou, não se iludiu. Ele apresentou ao Senhor uma realidade incontestável: “Senhor, como se têm multiplicado os meus adversários”! E mais. Ele sabia o que as pessoas estavam dizendo dele: "Muitos dizem da minha alma: Não há salvação para ele em Deus".

É horrível a sensação de ter sido usado pelas pessoas. Davi era rei, havia feito o bem àquele povo que agora estava contra ele, liderou muitas batalhas, arriscando sua própria vida, mas as pessoas haviam se esquecido de tudo isso. O que diziam é que para ele já era.

Talvez digam o mesmo de você, talvez inventem coisas, talvez não se importem com quem você foi ou com o bem que fez. Mas isso não justifica a autocomiseração, que não ajuda em nada. Não podemos parar a caminhada por conta do que as pessoas dizem de nós. É preciso continuar, mesmo contra tudo e contra todos, contra a própria realidade dos fatos.

Depois de informar ao Senhor, Davi diz ao Senhor o que pensava: “Porém tu, Senhor, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça”. Em outras palavras: “Todos estão dizendo que para mim não tem jeito, mas eu sei que quem decide mesmo é o Senhor. E sei que Tu és o meu escudo”. Davi estava dizendo que embora todos estivessem contra ele, no fim, a decisão vem de Deus e ele sabia que o Senhor era o seu escudo.

Essa é a parte mais interessante do texto. Podemos saber o que muitos dizem contra nós, podemos saber os prognósticos, podemos saber que a situação não está fácil para ninguém, mas o que importa mesmo é o que Deus diz a nosso respeito. E o que Ele diz? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8:31). “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8:33). “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Rm 8:35). “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8.38,39). “Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8:37).

Não posso dizer que o que as pessoas dizem não nos afeta, porque seria uma grande mentira. Afeta sim, entristece, sim, quando pensam mal de nós. Mas importa mesmo é o que Deus diz. E por que nem sempre conseguimos nos animar com o que Deus diz? Porque não sabemos, não lemos ou não nos lembramos do que Ele diz. Por isso é tão importante a disciplina espiritual. Hoje acordei meio triste, mas quando abri minha Bíblia nesse texto, fui consolada, lavada, renovada. Meu dia cinza ficou pra lá de colorido.

Nem sempre a situação vai mudar, nem sempre a opinião dos outros vai mudar, nem sempre nossas próprias expectativas vão mudar. Pode continuar tudo igual, mas quando a Palavra vem e nos renova, algo no nosso interior muda e é o suficiente.

Embora nada tivesse mudado, os inimigos continuassem a caminho, as pessoas continuassem falando de Davi, olhe só o que ele fez: “Com a minha voz clamei ao Senhor, e ouviu-me desde o seu santo monte. Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou”. Davi clamou, deitou e dormiu. Só ele mesmo para dormir com esse barulho? Não. Se aprendermos com ele, conseguiremos fazer o mesmo. Aliás, para que você acha que o texto foi escrito? Para o nosso ensino, para que aprendamos a fazer o mesmo.

E continua. Davi ora novamente, não para expor sua lamúria, mas para reafirmar a sua fé. “Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam”. Quero parafrasear novamente. É como se ele dissesse: “Senhor, o número de inimigos continua aumentando, e já estão preparados para o confronto, mas eu não temo”. Que lindo, não é? A situação não mudou, aliás, parece pior, mas não ando por elas: “Porque andamos por fé, e não por vista” (II Co 5:7). E aí Davi apresenta ao Senhor a jurisprudência: o que o Senhor fez no passado, pode fazer novamente: “Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios”.

O Salmo termina magistralmente. Davi mostra a que veio, por que era um homem tãõ especial: resolve abençoar e não amaldiçoar. Que lindo! Davi não pede a condenação dos inimigos, que estavam entre o povo, mas a bênção de Deus: “A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção”.

Tenho certeza de que não preciso continuar porque você já entendeu tudo! Jamais lerei o Salmo 3 da mesma maneira. Delícia de Bíblia!!! 



quinta-feira, outubro 04, 2012

O que fazer

A Bíblia tem histórias simplesmente extraordinárias. Gente entra, gente sai de suas páginas tão rápido! Só parando para meditar, para pensar com carinho sobre cada nome, cada história ali. Durante o tempo em que a Bíblia foi escrita, quantos milhões de pessoas não passaram pela terra? É muita gente, não é mesmo? Atualmente somos mais de 190 milhões de brasileiros e, no mundo, mais de 7 bilhões de pessoas.

Por que certas pessoas estão citadas na Bíblia é algo que me move a ler e reler. Risco, rabisco, marco minha Bíblia. Quero entender. Já sei que cada uma daquelas pessoas ali tem algo a me ensinar. Umas ensinam o que fazer e outras o que não fazer. Cresci depois que entendi isso. O importante é aprender com cada um e não julgar. De toda forma, estão me ensinando. E as mesmas pessoas podem me ensinar o que fazer em uma área e o que não fazer em outra. O ideal, então, é ser mais observadora, analisar mais, falar menos. Dizem que os inteligentes aprendem com a própria experiência, os sábios aprendem com a dos outros. Não preciso sofrer o que outros já sofreram para aprender se eu for sábia. Basta comparar atos e resultados.

O personagem de hoje é José, o marido de Maria, mãe de Jesus. Já escrevi sobre ele aqui no blog, mas permita-me fazê-lo novamente!

A história de José começa com ele de casamento marcado, com grandes expectativas de receber sua esposa. E a gente sabe muito bem o que esse “receber” abrange. Lembro-me de que, alguns meses antes do meu casamento, eu havia iniciado uma contagem regressiva. Sempre que via o Ricardo dizia: faltam duzentos dias, faltam cem dias, faltam noventa dias... Eu e ele sabíamos exatamente quanto tempo faltava sempre. Será que com José foi diferente? Será que sua espera foi mais ou menos dolorosa que a minha?

Enquanto esperava, a vida seguia devagar até que algo surreal aconteceu: Maria estava grávida. Aí começa o livro de Mateus a mostrar a grandeza desse homem que mereceu um cargo de tanta confiança: “pai” do Salvador. Ele pôde ver como era Deus bebê, Deus menino, Deus adolescente – aos doze anos, Jesus foi procurado por José e Maria quando estava no templo –e nem sei o que mais viu, porque a Bíblia não diz quando morreu.

Apesar de saber que sua futura esposa estava grávida e não era dele, resolveu deixá-la secretamente para que não falassem dela. “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente (Mt 1.18,19). Preste atenção na palavra que está escrita aí: infamar. Não é difamar, que significa falar mal. Mas infamar, assim definido no Aurélio: “atribuir infâmia, perda de boa fama, dano social ou legal feito à reputação de alguém”. Ele poderia até considerar merecida a nova fama, mas preferiu ficar calado.

Por muito menos, casais que se separam botam a boca no trombone. Outro dia li na Internet uma famosa atriz dizer que seu marido, com quem esteve casada por mais de quinze anos, nunca foi um bom marido. Como assim? Será possível uma coisa dessas? Foram os momentos ruins tão mais significantes assim que os bons? Vale a pena se concentrar no negativo? Quantas pessoas não têm prazer em serem as primeiras a saber de um escândalo: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt 18.7)

José resolveu não ser portador de más notícias. Calou-se num momento crucial. Ah, como ele tem coisas a me ensinar! Como preciso aprender a me calar em momentos de decepção. O normal no mundo é “botar a boca no trombone”. E o que quer dizer isso mesmo? É contar isso o mais alto e para o maior número de pessoas possível. É espalhar a notícia. E como as pessoas gostam de ouvir notícias assim! “As palavras do mexeriqueiro são como doces bocados; elas descem ao íntimo do ventre” (Pv 18.18).

Não parou por aí. José conseguiu dormir com esse barulho e sonhou: “E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; e dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.20,21).

Vamos pensar a respeito de novo. Muitas vezes vêm pensamentos à nossa mente, e são coisas muito boas, diga-se de passagem, e ficamos a nos perguntar: será que veio de Deus ou será da minha cabeça? Não foi assim que José agiu. Ele apenas acreditou. “E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus (Mt 1:24,25). Logo que despertou, José obedeceu.

Aqui quero abrir um parêntese para celebrar a gentileza de Deus. José não titubeou, não discutiu, não pediu provas; obedeceu. Gideão titubeou, discutiu, pediu provas por três vezes; obedeceu. E Deus não fala quem é mais ou menos santo, se José ou Gideão. Aceitou os dois. Tomé ainda fez um pouco pior: “Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo 20.25). Deus não faz acepção de pessoas. Age com doçura tanto para com um quanto para com o outro. Quantas vezes Gideão pediu provas, foram as vezes que Deus confirmou Sua palavra e a Tomé deixou que pusesse a mão do seu lado e seus dedos nos furos de suas mãos. Como Ele é lindo, como Ele é doce! Então, “não importa” se você crê ou não. Ele está sempre disposto a fazer o que for necessário para que não nos afastemos dos Seus planos para nós, que são o melhor.

E o final dessa história toda é que José esperou Maria ser mãe para ter sua noite de núpcias. Fico sem palavras ao pensar nisso. Quanta grandeza!

Certamente se essa história ocorresse hoje o nome que lhe caberia seria dos piores. Um homem “traído” pela esposa, “fraco” por não expô-la, “mané” por não contar pra ninguém, vexame total.

Realmente nossos valores precisam mudar muito para aceitarmos o que tem valor para Deus e para compreendermos que o que para nós é perda, para Deus é ganho, que com Deus quem parece estar perdendo está mesmo é no lucro!

José, você merece mesmo um lugarzinho na Bíblia. Com você aprendo o que fazer.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Pessoas são presentes

O dia começou tumultuado. A Juju esqueceu um trabalho da escola em casa, precisava entregar hoje e eu moro longe de onde ela estuda e muito longe de onde trabalho – do lado oposto ao da escola. Eu tinha duas opções: simplesmente ignorar sua necessidade e seguir o meu caminho, já que eu também tenho minhas obrigações, ou parar tudo e socorrer alguém muito necessitada.

Normalmente eu sempre socorro, mas vou reclamando e isso acaba com o meu dia. Fico brava, dirijo no desespero e deixo um “detalhe” acabar com o meu dia. Mas não hoje. Algo mudou em mim desde que li o livro Encantadores de Vidas. Nada como ver a grandeza dos outros para enxergar a pequenez de nós mesmos.

Estou começando a olhar as pessoas sob outro prisma. Pessoas são lindas, pessoas são bênção, pessoas são resposta, pessoas são o que há de mais precioso neste mundo. E eu sou tão especial que Deus me confiou três para cuidar. É acreditar muito em mim mesmo me dar pessoas!

Deus olhou para o homem e disse: "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda" (Gn 2:18). Não sei se Adão estava deprimido, desanimado, se ele já tinha descoberto que precisava de uma companhia. Quem disse que não é bom estar só foi Deus e não Adão. E deu a ele um presente: uma mulher.

Ter cônjuge é um presente. Estar casado é mágico. Ontem mesmo disse ao meu marido que uma das coisas de que mais gosto no casamento é de ter alguém para dividir a cama. Não me importo se a televisão está ligada, se a luz está acesa, mas me importo muito com a cama vazia.

As pessoas têm-se isolado cada vez mais. Temos a falsa impressão de sermos populares, possuirmos muitos amigos por causa da Internet, mas, na verdade, aqui na frente do nosso computador, estamos sós. É preciso desligá-lo, sair, conversar cara a cara com os amigos, cultivar relacionamentos. Pessoas são canais de cura. “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” (Pv 27:17). Como é que o ferro afia o ferro? Com o atrito. Mas sabe o que acontece depois que está afiado? Fica melhor. Como é fácil cortar com uma faca afiada e como é trabalhoso com uma sem corte! Em outras palavras, as pessoas são capazes de nos tornar cada vez melhores, mesmo que o façam no atrito.

Deus deu a Abraão muitas coisas. Ele era riquíssimo. Foram tantos os bens que amealhou que ficou impossível conviver com seu sobrinho Ló, a quem Deus também abençoou grandemente. Mas era grande a sua sensação de vazio. Faltava-lhe o complemento ideal: uma pessoa, um filho.

Ah, os filhos são o mel na nossa boca. Os meus me fazem ficar muito brava alguns momentos, mas passa logo. Na maioria das vezes, me fazem rir, me fazem babar, me tornam mais terna. Hoje mesmo abracei e beijei os dois logo de manhã. Que delícia! Eles são o melhor trabalho do mundo.

Ninguém é bom ou mau por si mesmo. As pessoas agem conosco como agimos com elas. Gentileza gera gentileza. Aridez gera aridez. “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira” (Pv 15.1). Se você considera seus filhos um problema, assim eles se tornarão. Mas experimente mostrar a eles como são queridos, amados, desejados e veja o que acontece. Tenho certeza de que ficará surpreso. Suas emoções afetam os outros e até mesmo a sua saúde. Não posso deixar de escrever aqui o que estou aprendendo com o Nuno Cobra no livro que estou lendo:”Você tem de se convencer de que a emoção é a rainha da vida. O seu estado emocional influi diretamente no funcionamento do organismo, mostrando a enorme importância de “direcionar” as emoções para viver em equilíbrio (...). Então uma coisa puxa outra: bem-estar provoca mais bem-estar e mal-estar aumenta o mal-estar”.

Sinceramente, não era sobre nada disso que pretendia escrever, mas não vou deletar o que já escrevi aqui. Talvez alguém precise ler isto para acertar o rumo da família ou o rumo da própria vida. E antes de terminar quero contar uma experiência muitíssimo dolorosa de um pai.

Certo homem muitíssimo rico tinha um filho extraordinário, uma pessoa realmente superior a todas as demais. Ele era lindo, amável, educado, sensível, perdoador, amoroso. Vivia em plena harmonia com seu pai. Era tudo o que um pai pode querer.

Um dia, esse filho se apaixonou por alguém. Como todos os pais, o que se podia esperar é que a escolhida estivesse à altura do pretendende. Se assim fosse, ela teria que ser realmente muito especial. Mas isso não era verdade. O filho a amava muito, muito, sem medida. Não lhe exigia nada, jamais era ríspido, jamais se irritava com ela, mesmo diante de suas malcriações, nunca devolveu mal por mal. Mas ela não era digna desse amor.

Enquanto esse filho preparava seu casamento, a eleita abusava dele com outros amantes. E não era um só; eram vários. Era grosseira frequentemente. Deixou sempre muito claro que queria o que ele tinha a oferecer e não a ele próprio. Mas isso não importava. Jamais se deixou influenciar por suas más ações. Ele era forte de caráter, seguro, estável. Ela não era capaz de mudá-lo para pior, mas também não lhe permitia mudá-la para melhor.

E o pai? Bom, se fôssemos nós, certamente daríamos um jeito de impedir essa união. Falaríamos tudo o que soubéssemos, colocaríamos diante de ambos todos os impedimentos possíveis. Mas seu pai resolveu apaixonar-se junto. Ele entendia que a vida para ela tinha sido dura, que a única coisa capaz de mudá-la seria o amor, que ninguém mais além de seu filho desejaria resgatá-la. Assim ele incentivou seu filho a amá-la profunda e intensamente, a ponto de morrer por ela se necessário fosse. E foi. O Pai chorou, o Filho sofreu e Nós continuamos com a opção de aceitar ou não esse amor, corresponder ou não a ele.

Deus poderia olhar para nós, Seus filhos, e dizer: “melhor exterminá-los, eles não têm jeito” – quantos não disseram algo parecido sobre seus filhos, seus sogros, seu cônjuge, alguém da família! Mas fez diferente: “meu amor vai ser suficiente para ajudá-los a serem melhores para si mesmos e para os outros e não vou obrigá-los a aceitar-me; venha quem quiser”.

Somos um presente para Deus. Ele nos vê como a coroa da criação, como filhos amados. “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116.15) porque é a hora em que temos a oportunidade de estar onde Ele está.

O amor só é amor quando dá aos outros a possibilidade da escolha, quando não obriga, não se impõe, não força a barra, não sufoca, não cobra... Quem ama perdoa, quem ama deixa ir, quem ama liberta, quem ama não faz exigências, quem ama ama. Quem ama vive melhor! O amor é a essência de Deus, o amor é a essência da vida. E o alvo do amor sempre são as pessoas, mereçam ou não.

Quem semeia amor mais cedo ou mais tarde vai colher, afinal, como disse Pero Vaz de Caminha: “Em se plantando, tudo dá”...



segunda-feira, outubro 01, 2012

Absolvido

Minha vida de mãe não tem sido nada fácil. E também não posso dizer que, quando filha, as coisas eram mais simples. Não fui uma adolescente das mais complicadas, mas gente é gente – dizendo isso acho que nem preciso esmiuçar o assunto.

Sou uma admiradora do grande Rei Davi, homem sensível, humano, educado. Mas tenho de admitir o inegável fato de que ele foi um péssimo pai. Talvez você deseje perguntar, como já o fiz: como pode um pai fracassado ser chamado de um homem segundo o coração de Deus? Não são os resultados que interessam? Não se conhece a árvore pelos frutos? Aceito o desafio de pensar sobre o assunto.

Entre a ação, a intenção e o resultado há muito mais do que podemos imaginar. Há uma lei que afirma que a toda ação corresponde uma reação proporcional no sentido contrário. Isso pode ser ótimo na física, mas, nas relações humanas, não é assim tão lógico. Quem nunca disse uma coisa e obteve um resultado tão diverso do que esperava que chegou a se arrepender de ter aberto a boca? Quem nunca ficou calado e depois recebeu a pecha de ter concordado com algo sobre o qual nem se manifestou?

No reino espiritual o resultado não é tudo. Aliás, nem sempre o resultado interessa. Veja só este texto: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade (Mt 7.21-23).

Veja só como as coisas não são tão simples quanto parecem: o texto fala que as obras daqueles homens eram espetaculares - profetizavam, expulsavam demônios, faziam maravilhas -, mas eles não se fizeram conhecidos por Deus por meio delas. Na resposta de Jesus, o que eles praticavam mesmo era a iniquidade. Como pode isso? Só há uma justificativa: a intenção é o que vale na verdade. Jesus até afirmou que adultério não é apenas o ato, mas até mesmo a intenção: “Ouvistes que foi dito: não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela" (Mt 5.27,28). Por aqui fica muito claro que, enquanto as pessoas consideravam o ato em si, Deus considera o coração. Com as palavras do texto: a intenção.

Bom, este post aqui não é para fazê-lo sentir-se acusado. Ao contrário. Para ver quão impressionante foi a obra de Cristo que culminou na nossa absolvição. 

Embora façamos o mal, há dentro de nós, recriados, renascidos, filhos de Deus, um desejo muito grande de acertar. Todos nós – pais, amigos, líderes, cidadãos, irmãos em Cristo – queremos fazer o bem, desejamos ajudar as pessoas, até oramos para sermos uma bênção por onde quer que formos. Mas na caminhada erramos muito, magoamos pessoas, desconsideramos favores, perdemos oportunidades de fazer o bem, às vezes, até sem ver. Quantas vezes passei – e ainda passo – pelas pessoas sem cumprimentar! Muitas vezes estou olhando, mas não estou vendo. Minha mente está tão absorta em tantos assuntos que nem sei de fato por onde ando. 

Veja este texto: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Rm 7:18). Citei o capítulo 7 de Romanos aqui, mas não posso deixar de dizer que é um texto bastante problemático. As pessoas param em um versículo para justificar atitudes erradas – aliás, neste versículo aqui: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm 7:19) –, entretanto, não estão considerando o texto na sua totalidade. O que o apóstolo quer dizer em todo o contexto do capítulo é que há em todos nós uma luta entre carne e espírito, mas ele encerra dizendo que não somos mais escravos da carne. Quem nasceu de novo não está mais preso à lei da morte, aos desejos da carne, mas à lei do Espírito da vida. Graças a Deus por isso! "Porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte" (Rm 8:2).

Esse Espírito da vida ao qual estamos sujeitos é o mesmo Conselheiro, Consolador, Espírito Santo que o Pai nos enviou. Ele sonda os nossos coraçōes e nos conhece, sabe exatamente quais são as nossas intençōes, sabe exatamente a vontade que temos de acertar, mesmo não conseguindo isso sempre. Voltando ao texto de Romanos aí de cima, "o bem que eu quero fazer", é correta a afirmação que queremos fazer o bem.

O mesmo Deus que considerou Davi um homem segundo o seu coração hoje nos considera Seus filhos amados: "Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados" (Ef 5:1). Ainda que os resultados que tenhamos obtido em muitas áreas da nossa vida sejam insatisfatórios, Ele sabe como queremos fazer a coisa certa e leva isso em consideração. Então não se condene e nem permita que outros o façam; não aceite acusaçōes - "Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8:1). 

Liberte-se da culpa e concentre-se na oportunidade que Deus concede ainda hoje de fazer a coisa certa. E lembre-se de que, ainda que o nosso coração nos acuse, Deus é maior do que o nosso coração e está sempre disposto a nos absolver. "Pois, se o nosso coração nos condena, sabemos que Deus é maior do que o nosso coração e conhece tudo" (I Jo 3:20).

Fique tranquilo: Deus é por você!