segunda-feira, outubro 22, 2012

Desligue o piloto automático

Imagino que você também já tenha vivido a experiência de sair de casa sem saber se desligou o ferro elétrico ou o fogão, se trancou a porta, se acendeu ou apagou luzes. Também imagino que algum dia já se viu dirigindo por uma estrada que não era a do local aonde deveria ir. Meu marido chama isso de andar no automático.

Nós nos acostumamos com muita coisa. Por isso, fazemos as coisas sem nem saber por que, como, pra quê. Vamos internalizando comportamentos, transformando em hábitos e nos esquecemos de refletir. Assim, muitas vezes o nosso corpo está em um lugar onde nossa mente não está de fato. Deixamos o tempo passar e nem nos apercebemos de que ele não vai voltar.

Toda essa introdução é para trazer o assunto que quero abordar, uma experiência maravilhosa de um cego. A forma como a Bíblia se refere a ele é um tanto quanto chocante: “E, saindo ele [Jesus] de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto do caminho, mendigando" (Mc 10:46). O nome do homem era Bartimeu. Seu estigma, ser cego. Seu defeito físico era a melhor forma de defini-lo. Quem era? Bartimeu. Qual Bartimeu? O cego.

Uma das coisas que acho impressionante ver e que tenho me empenhado em mudar é a qualificação que dou as pessoas. Isso tem começado na minha própria casa. É muito difícil ver alguém ser reconhecido por seu talento, por aquilo que tem de bom. Na maioria das vezes, as pessoas são conhecidas por serem: aquele gordinho, aquela magrela, aquela zarolha, aquele folgado, aquele gago, aquela fofoqueira. Quantas pessoas você conhece que são chamadas assim: aquela inteligente, aquele talentoso, aquela bondosa, aquele trabalhador? Meu marido tem um “estigma” que eu amo e ele também. As pessoas falam com ele como se estivessem fazendo uma gozação, mas ele recebe o nome e se alegra cada vez que ouve. O sobrenome dele é Vilas Boas e as pessoas o chamam de “vida boa”. Sabemos que alguns o fazem como se fosse uma chacota, mas é, para nós, uma denominação extremamente agradável. Sorrimos e amamos o apelido, embora saibamos que alguns o fazem na malícia.

Bartimeu estava cercado de pessoas. Jesus não tinha ido falar com ele, estava apenas passando e com um cortejo grande, imagino. Mas isso não importava para ele, contanto que se fizesse visto pelo Mestre. Então ele começa a gritar. Faz o possível para ser notado, enquanto o povo o manda calar a boca. “E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: 'Filho de Davi! tem misericórdia de mim” (Mc 10:48). Esse comportamento do cego me chama muito a atenção. Quantas vezes não deixamos a bênção passar de nós pela pressão dos outros ou por vergonha mesmo! E ainda dizemos: “Mas ele não me viu; ele não veio aqui por minha causa; ele não me cumprimentou; ele nem sabe que eu existo”. Bartimeu podia ter se resignado e deixado Jesus passar. Podia ter esperado uma nova oportunidade em que Ele não estivesse assim tão cheio de companhias. Podia ter deixado para a próxima, mas não deixou a oportunidade passar. Não importava quantas vezes ouviria as pessoas dizendo para se calar. Decidiu se fazer ouvir. Não foi Jesus quem o notou; foi ele que chamou a atenção do Salvador.

Ainda há um fato interessante na forma como se fez ouvir. Enquanto todo mundo gritava: Jesus, Jesus de Nazaré, ele chamou a atenção do Mestre de uma forma diferente: “Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim” (Mc 10:47). Chocante isso. Só pode ter sido o Espírito Santo quem revelou a ele a descendência de Jesus. Não se ouve nos evangelhos Jesus mesmo dizer dEle que era o Filho de Davi. Foi um grito de revelação, um grito diferente que fez Jesus parar. A fé de Bartimeu abriu para ele a porta da revelação, deu a ele a chave para se fazer notar. Enquanto todos conheciam o Jesus da cidade de Nazaré, a ele foi revelado o Jesus Filho de Davi, Salvador do mundo, o Messias por quem todos esperavam. Quem contou ao cego que aquele era o Filho de Davi, uma designação profética do Messias? Só pode ter sido o Espírito Santo. Que revelação! Como Jesus não ouviria um grito desses?

Não vou continuar a história, mas você pode ler no livro de Marcos, porque há muitas revelações ali. Quero terminar o post comentando algumas coisas.

Hoje ainda temos a oportunidade de desfrutar de Jesus aqui e agora, mas ainda O deixamos passar despercebido. Depois reclamamos. Vamos aos cultos, entramos nos nossos momentos devocionais ligados no piloto automático. Quantas vezes não terminamos a nossa oração sem sequer saber o que mesmo nós dissemos? Quantas vezes não conseguimos nos lembrar dos cânticos que entoamos no culto do dia anterior? Se eu perguntasse a você qual foi o texto da mensagem que ouviu no último culto saberia dizer o endereço do texto que embasou? Repetimos frases poderosas, mas vazias de significado na nossa boca. Estão inseridos, nas nossas orações, versículos incapazes de produzirem efeito na nossa própria vida, porque vêm desacompanhados da fé, e sem fé é impossível receber de Deus qualquer coisa: “Peça-a [sabedoria], porém, com fé, em nada duvidando; porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, e lançada de uma para outra parte. Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa” (Ti 1:6-7).

Quem está decidido em obter de Deus alguma coisa precisa ter uma atitude correspondente à fé. Como diz, e muito bem, o livro de Tiago: a fé sem obras é morta. Crer sem agir não tem efeito. Dizer: “Deus vai fazer, Deus pode fazer” sem cooperar com Ele é tolice.

Por outro lado, quem tem fé suficiente para se fazer visto, para gritar até merecer a atenção, para enfrentar uma multidão para chegar até Jesus não sairá de Sua presença sem obter o que espera. Podemos extrair de Deus o que desejamos assim como uma mulher que sofria de uma hemorragia conseguiu extrair de Jesus poder: “E disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude” (Lc 8:46). A mulher extraiu virtude de Jesus, ou seja, ela sugou do Seu poder.

Podemos andar no piloto automático e precisar fazer um esforço fora do comum para nos lembrarmos do dia anterior, do que fizemos semana passada, da última vez que aconteceu algo inesperado, ou podemos sair do piloto automático e extrair do Senhor virtude para cada dia, chamando a Sua atenção, clamando por ele. Para isso, será preciso enfrentar a multidão, sair da zona de conforto, desprezar aqueles que querem nos tirar do foco e desistir daquele sentimento de pobre coitadinho para quem nada acontece.

Convido você a desligar o piloto automático e ir à luta. Deus está disponível agora. Clame por ele!

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