sexta-feira, outubro 26, 2012

Final da história

Sinto-me obrigada a retomar o assunto do post anterior. Se você não leu, peço, por favor, que, antes de ler este aqui, dê uma olhadinha lá.

Falei que o preço da paz não é alto demais, mas o sentimento de injustiça é cruel. E é muito difícil livrar-se dele. Por mais que digamos que deixamos para lá, dói. O que fazer então? Vou mostrar a você o fim dessa história para que o seu coração seja reanimado. Deus é tão tremendo, tão maravilhoso que nos deixa antever o que está por vir para que suportemos as aflições e não morramos sem alcançar a promessa: “E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gl 6:9).

Só para situá-lo novamente, resumirei ao máximo a história. Abraão cavou poços e lutaram com ele pela posse destes. Ele abriu mão, aceitou o prejuízo e o povo, que nem precisava desses poços, os entulhou. Anos depois, Isaque resolveu reabrir esses poços e dar a eles os mesmos nomes que seu pai havia dado: “Isaque reabriu os poços cavados no tempo de seu pai Abraão, os quais os filisteus fecharam depois que Abraão morreu, e deu-lhes os mesmos nomes que seu pai lhes tinha dado” (Gn 26.18). Ele abriu, o povo reclamou a posse (26.20). Isaque deixou o poço para lá e cavou outro. Eles reclamaram a posse do segundo poço. Isaque abriu mão, eles ficaram com o poço (26.21). Isaque cavou de novo (26.22). Então não reclamaram.

Vamos pensar sobre o assunto. Hoje temos máquinas para cavar poço. É um trabalho de horas, mas, naquela época, era de dias e, pior, sem garantia de haver água no lugar onde estavam cavando. Devia ser uma trabalheira louca cavar poço. Isaque se submeteu a isso três vezes por pura inveja de gente que nem precisava de um poço.

Fugir da briga uma vez é totalmente aceitável. Fugir duas vezes é estranho. Três vezes, impensável, não é mesmo? Não, não é. Foi assim que Isaque se comportou. Imagino que, se dez vezes fosse confrontado, dez vezes cederia.

Sabe como costumam chamar homens assim hoje em dia? Ba-na-na. Que dureza, amigo! As perdas enfrentadas por Isaque foram maiores do que simplesmente de um bem. Havia mais a perder: a própria imagem. Duvido de que ele não tinha empregados para dizer a ele: “Vamos matar esse pessoal; quando vierem tomar posse do poço, vamos dar uma surra neles”. Quantas sugestões ele deve ter recebido! Ah, como precisamos ouvir as pessoas certas – ou A Pessoa certa!

Amigo, se você é brasileiro, tenho certeza de que conhece a expressão: “O mundo é dos espertos”. Quem não conhece a famosa Lei de Gérson: devemos levar vantagem em tudo? Só que a Lei de Deus é maior e mais poderosa do que qualquer princípio humano: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).

Veja só como essa história acaba de uma maneira linda: Isaque se mudou daquele lugar, indo morar em Berseba, abandonando um poço que furou a duras penas. Lá Deus reafirmou seu concerto com Ele. Quer dizer, o último poço ficou como um presente para aquele povo contencioso. Nesse novo lugar, foi necessário cavar outro poço, se estabelecer, recomeçar, furar novos poços.

O povo da terra anterior ficou lhe devendo. Deviam-lhe três poços. Isaque pode ter-se esquecido da dívida, o povo pode ter-se esquecido da dívida, seus empregados podem ter-se esquecido da história toda, mas o mundo espiritual registra tintim por tintim: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gl 6:7).

Não se sabe o que houve em Gerar depois que Isaque deixou a terra, mas algo aconteceu que os fez reconhecer que Deus era com ele. De alguma maneira, eles sofreram a perda de um homem a quem o Senhor não se cansava de abençoar. Por isso, tiveram de voltar para se desculpar: “Por aquele tempo, veio a ele Abimeleque, de Gerar, com Auzate, seu conselheiro pessoal, e Ficol, o comandante dos seus exércitos. Isaque lhes perguntou: ‘Por que me vieram ver, uma vez que foram hostis e me mandaram embora?’ Eles responderam: ‘Vimos claramente que o Senhor está contigo”. Que coisa linda! Eles tiveram de engolir seco o orgulho.

A Palavra de Deus não falha. Não ficaremos eternamente no prejuízo. De alguma forma, Deus nos recompensará o dano causado injustamente. Aleluia! Deus não se esquece. Só preciso informar-lhe que é preciso esperar o tempo passar. A Bíblia não diz quanto tempo demorou para que Isaque fosse procurado, mas acredito que passou um bocado de tempo. Sabe por quê? Por causa desta frase aqui: “Agora sabemos que o Senhor te tem abençoado" (Gn 26.29). Certamente tiveram de juntar muitos fatos para reconhecer que aquele a quem haviam pedido para sair da terra fazia falta. E tiveram de engolir seco o orgulho, admitir que estavam errados e ir atrás.

Querido leitor, como eu disse no post anterior, a olhos humanos, deixar para lá, não reivindicar o que nos é de direito parece uma injustiça muito grande. Por outro lado, fincar o pé e manter-se no lugar do confronto é um desgaste ainda maior. Afeta a saúde espiritual, afeta a saúde física, afeta a saúde relacional. É preciso aprender a conviver com a perda e olhar as questões com olhos espirituais: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz” (Sl 37.11). Esse último versículo é interessante. Escrito num tempo em que para ter posse da terra era preciso guerrear, traz uma verdade interessante: para herdar a terra, é preciso ser manso e esse que herdar assim terá paz, não precisará brigar para manter sua posse.

Espiritualmente, Isaque saiu ganhando. Não parecia. Os poços ficaram, o trabalho foi perdido, ele sofreu um abuso do seu direito, foi espoliado, mas o fim da história mostrou que ele saiu ganhando.

Aguente firme. O invejoso não prosperará para sempre. Mais cedo ou mais tarde, terá de reconhecer que Deus é com você. Não se lamente, não murmure, não sofra. No momento certo, Deus mostrará a todos que Ele é com e por você. Enquanto isso, não Se cansará de abençoá-lo. Assim como esteve todo tempo com Isaque, estará todo tempo com você.

Nada como um dia após o outro.

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