domingo, dezembro 30, 2012

Eu devia ter...

Imagino que este deva ser o último post de 2012. É muita responsabilidade escrever algo para fechar o ano. Poderia dizer do que me alegrou, do que me entristeceu, mas quero falar da lição mais importante que aprendi este ano e espero que de alguma forma sirva para você.

A vida é feita de estágios. Durante um tempo somos bebês, totalmente dependentes dos pais. Depois somos crianças, adolescentes, jovens, adultos, velhos. Conforme vamos progredindo no tempo, nossas concepções vão mudando, as exigências sobre nós também. É doentio não crescer. Fisicamente isso e visível, interiormente inconcebível.

A Palavra de Deus é imutável. Mesmo assim, quero falar de alguns estágios que descobri na lei "mais fundamental" (perdoe a redundância) da vida: a lei do amor. 

Deus revelou Sua Pessoa progressivamente ao homem, na medida em que este podia compreendê-lO. Foi de pouco a pouco, porque o homem não tinha parâmetros, capacidade de entender um Ser tão grandioso. E o mesmo fez em relação às Suas leis. Foi, e vai, nos ensinando pouco a pouco, exigindo somente aquilo a que podemos corresponder. 

Minha filha vai cursar agora o oitavo ano. O que se exige dela é muito superior ao que se exigia há quatro, cinco anos. Mas por que é assim? Porque hoje ela não só tem condições para isso, mas porque é necessário que prossiga no seu desenvolvimento. 

Quando éramos crianças espirituais, incapazes de muita coisa, Deus nos ensinou o fundamental - como nos relacionarmos com Ele e uns com os outros - com estas ordens: Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto, porque eu, Jeová, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta geração daqueles que me aborrecem,  e uso misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome de Jeová, teu Deus, em vão, porque Jeová não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.  Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra;  mas o sétimo dia é o sábado de Jeová, teu Deus. Nesse dia, não farás obra alguma, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o teu estrangeiro que está das tuas portas para dentro;  porque em seis dias fez Jeová o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há; por isso, Jeová abençoou o dia sétimo e o santificou.    Honrarás a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que Jeová, teu Deus, te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.    Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença (Êx 20:3-17).

Veja que aqui não se fala em amor. Deus regula o nosso relacionamento com Ele e com o próximo com leis que disciplinam o corriqueiro. Ele não fala em motivação, explica rapidamente alguns porquês, promete recompensa pela obediência em alguns casos, mas não discute muito o assunto.  Fazemos assim mesmo com os nossos filhos pequenos. Dizemos: "Faça isto, não faça aquilo, se fizer tal coisa ganhará aquele presente"... Ainda não é tempo de debater, não dá para explicar muita coisa, não se tolera a desobediência. Tem horas que chegamos a dizer: "Porque eu mandei e pronto; um dia você vai entender". Mas o tempo passa e é preciso se desenvolver. 

Deus resolveu vir ao mundo encarnado na pessoa de Seu Filho e estabeleceu um novo padrão para os relacionamentos. Não mais com base em ordens, no faça ou não faça. Olha que lindo o novo padrão: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.  Este é o grande e primeiro mandamento.  O segundo semelhante a este é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.  Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22:37-40). 

Agora o padrão é outro: não somente obedeça a Deus. Ame-O acima de tudo. E ame também ao próximo da mesma forma como você ama a si mesmo. E encerra dizendo: tudo depende disso. O que quer dizer toda lei e os profetas? Todos os conselhos, todos os mandamentos da Palavra, tudo o que está escrito na lei e tudo o que os profetas disseram pode ser cumprido se tão somente esses dois mandamentos forem obedecidos. Assim se resume tudo. E que resumo poderoso! 

Parecia simples, mas não era. E por que não? Porque o mundo está doente. Muitas pessoas são incapazes de amar a si mesmas. Assim, essa ordem: "Ame como você se ama" pode não ser eficaz. Deveríamos amar a nós mesmos, mas a vida tem sido muito dura para muita gente. Adoecidos na alma, muitos não conseguem se amar, se perdoar, se dar uma chance. Então, se nao é possível obedecer a esta parte será possível obedecer à outra?

Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.  Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15:12, 13). 

O terceiro e último mandamento é para quem caminhou, cresceu. Não se exige apenas a obediência, o faça o que eu mando; não devemos fazer ao outro na medida em que fizerem a nós; não devemos amar como nos amamos. Agora devemos amar como Cristo amou. E como Ele o fez? Mas Deus prova o seu amor para conosco em que, quando éramos ainda pecadores, morreu Cristo por nós (Rm 5:8). Jesus não morreu por nós quando o aceitamos, mas quando ainda éramos inimigos.  

É um padrão extremamente elevado amar os inimigos, não fazer conta das injúrias, não se vingar, perdoar, esquecer, dar a outra face, andar a segunda milha, dar a capa a quem rouba ou toma a túnica (Lc 6). Não importa em que estágio estão os outros. Importa em que estágio estamos nós. É preciso decisão: vou crescer, vale a pena obedecer, "esquecendo-me das coisas que para trás ficam prossigo para o alvo". 

Estou certa de que o mundo pode ser melhor se apenas decidirmos melhorar nossos relacionamentos, primeiramente com Deus, depois com o próximo.  Eu não quero cantar: 

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
E até errado mais
Ter feito o que queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são 
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração... 
O acaso vai me proteger 
Enquanto eu andar distraído 
O acaso vai me proteger 
Enquanto eu andar... 
 Devia ter complicado menos 
Trabalhado menos 
Ter visto o sol se pôr 
Devia ter me importado menos 
Com problemas pequenos 
Ter morrido de amor... 
 Queria ter aceitado 
A vida como ela é 
A cada um cabe alegrias 

Colocando as coisas em seus devidos lugares, devo dizer que o acaso não protege ninguém. Corrijo o erro: Deus vai me proteger enquanto eu andar distraída... 

E enquanto Ele ainda me permitir acordar, serei ensinada, guardada, protegida, suprida, abençoada não para mim mesma, mas para fazer do nosso mundo um lugar melhor simplesmente obedecendo à lei do amor. 

Que venha 2013! 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

De recuperação

Nunca me esqueci de uma frase que ouvi a Pastora Laudjane dizer: "Algumas coisas serão mudadas, outras, serão aceitas". Infelizmente teremos que conviver, durante a nossa vida, com muita coisa de que não gostamos tanto em outros como em nós. Nem tudo pode ser mudado, mas a nossa disposição interior em relação a tudo, essa, sim, pode e deve ser trabalhada.

Embora pudesse com um estalar de dedos mudar o destino de Jesus Cristo, salvá-lO da cruz, livrá-lo de muita dor, o Pai não o fez. Esse plano não seria mudado; precisava ser aceito. E Jesus o aceitou humildemente. Como diz Filipenses 2: "E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome" (Fl 2.8,9).

É muito difícil passar por provas, por circunstâncias adversas. As aulas estão terminando. Hoje fui fazer a matrícula do meu filhote e a escola estava cheia. Muitos alunos ficaram de recuperação. E o que é a recuperação? É o atestado de que aquele assunto não foi compreendido plenamente, por isso deve ser revisto. É horrível ficar de recuperação, mas, muitas vezes, totalmente necessário.

Quero falar um pouquinho hoje de uma família que ficou de recuperação. Nos capítulos finais do livro de Gênesis há o relato de uma história que eu amo e que me ensina muito. Um pai chamado Jacó tinha doze filhos, mas um era seu predileto: José. Essa predileção era óbvia e isso e os sonhos de grandeza do menino deixaram seus irmãos profundamente irritados a ponto de quererem matá-lo. Apesar de desistirem desse intento, venderam o seu irmão como escravo e disseram a seu pai que o menino havia morrido. Assim como o pai não demonstrava consideração para com eles ao deixar clara a sua predileção, estes não demonstraram consideração para com o pai ao vê-lo sofrer por conta da mentirosa morte de seu filho predileto.

Será que há culpados nessa história? Cada um dá o que recebeu. Jacó também fora preterido por seu pai, que amava mais a seu irmão Esaú. Deu o que recebeu. Que triste sina!

Devemos tentar olhar a vida sob vários prismas. Muito do que fazemos está relacionado ao que fizeram conosco. Por isso precisamos ser mais compassivos. Não sabemos o que há por trás das atitudes dos outros, quanto daquilo é o que fizeram com eles, portanto, mera repetição, às vezes, até mesmo inconsciente. É aí que entra o fruto do espírito, que precisa ser desenvolvido em nós. Não temos qualquer controle sobre os outros, mas podemos controlar as nossas próprias reaçōes, denvolver o domínio próprio, a alegria, a mansidão, a longanimidade e, para mim, uma das nuances mais fantásticas do fruto: a benignidade, que é a capacidade de sempre pensar o bem acerca de qualquer coisa ou pessoa.

É claro que os anos trazem experiência, mas infelizmente não trazem a sabedoria: "Nós não ficamos mais sábios com a idade, nem sempre os velhos sabem o que é certo" (Jó 32:9). Para essa família viver em paz, ou o pai teria que mudar de atitude ou os filhos teriam que aprender a conviver com essa característica do pai.  Não adianta esperar a mudança, forçar a mudança, exigir a mudança. Faz muito mal para qualquer relacionamento as exigências. É melhor considerar que algumas coisas serão aceitas e trabalhar a mudança em nós mesmos.

Esses filhos ficaram de recuperação. Ou aprendiam a tolerar essa fraqueza do pai ou a família morreria. Então, se viram diante do mesmo teste. O filho que tinham vendido tornou-se governador do Egito, prendeu um dos irmãos e exigiu como condição para libertá-lo e livrar a família da fome a presença do outro irmão, agora o predileto do pai. "Ele [o pai], porém, disse: Não descerá meu filho convosco, porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe sucede algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza à sepultura (Gn 42.38). O pai só considerou aquele como filho. É triste vê-lo dizer: "Seu irmão é morto e só ele ficou". Indiretamente ele estava dizendo: "Só este eu considero, de fato, meu filho". Dureza. Ele não mudou. O pai não aprendeu que sua preferência gerou o ódio e a perda de um filho, mas os filhos aprenderam a conviver com as deficiência do pai. Eles não odiaram esse irmão. Na verdade, quem lê a história vê que fizeram de tudo para protegê-lo. A situação não mudou, mas eles mudaram. E como tudo termina? Com uma família unida. Eles passaram na recuperação.

Acho que este é um bom tema para o nosso fim de ano. Precisamos aceitar mais, estribuchar menos. Podemos ser melhores e viver melhor se simplesmente aceitarmos os outros como eles são e pararmos de tentar forçar mudanças. 

Muitas situaçōes e pessoas não mudarão, mas tudo muda quando eu mudo!