segunda-feira, agosto 09, 2010

Colcha de Retalhos

Tem determinadas épocas em que a gente se sente uma bomba atômica pronta para explodir ou para movimentar o mundo. É como se estivéssemos revestidos de uma couraça protetora incapaz de deixar penetrar qualquer tiro, empunhando uma arma letal infalível e um escudo tão grande que seria impossível a qualquer inimigo nos enxergar por trás dele. É assim mesmo que devemos ser sempre espiritualmente: fortes, invencíveis, ousados.
Ah se conseguíssemos nos lembrar todo tempo de que o Senhor é o nosso escudo, a nossa força, o nosso alto refúgio, aquele que adestra as nossas mãos para a batalha!
Até mesmo na nossa vida espiritual há momentos de grande fragilidade, quando nos sentimos o que realmente somos: pó da terra. É nesses momentos que fazemos as orações mais profundas, que aprendemos a ouvir a voz de Deus no silêncio, a nos aquietar, a obedecer ao Salmo que diz: Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus.
Amo ler o livro dos Salmos, pois muitas vezes me deparo com um escritor fragilizado, temeroso, despreparado para algumas batalhas, mas todo tempo confiante em Deus. É engraçado ver como Davi, no mesmo salmo em que diz a Deus que precisa de livramento nas batalhas e de proteção contra os inimigos, termina quase sempre dizendo: em Ti confio, Tu és o meu Deus, Tu és o meu bem maior e outro bem não possuo.
Não costumamos pensar que essas estações – de confiança e de dúvida, de certeza e de medo, de alegria e de profundo desespero - são necessárias. Achamos que quem crê em Deus deve estar sempre feliz, forte, animado. Então, quem sabe ouvir a voz do Espírito Santo recebe Sua doce instrução quando nos lembra de que o poder de Deus se aperfeiçoa na nossa fraqueza. Na verdade, nossas incapacidades, nossa fraqueza e a nossa fragilidade mais nos aproximam de Deus, nos fazem buscarmos Seu auxílio, chorar por livramento, clamar por socorro bem presente na tribulação.
Será possível estar sempre feliz? Não acredito que quando Paulo falou: “Aprendi a estar contente em toda e qualquer situação, tanto sei ser humilhado quanto estar exaltado” quisesse dizer que rejubila quando passa por tempos difíceis, mas, sim, que se contenta em passar por eles, sabendo que tudo será proveitoso e resultará em glória futura.
Na correria do dia a dia, em tempos de um mundo tão acelerado, é realmente difícil aquietar e simplesmente desfrutar da presença de Deus, às vezes, até mesmo calado, sem pressa, sem pedidos. No entanto, tenho plena convicção de que é isso o que Deus quer: que paremos de tentar comandar, de guiar a nossa vida, de tentar conduzi-la e deixá-lO nos levar para as águas de descanso, que é onde Ele refrigera a nossa alma e se revela como o El-Shadai, Deus que nos amamenta.
Precisamos entender que, embora em nossa vida os quadros pareçam estanques, muitas lutas pareçam não fazer o menor sentido, as coisas pareçam não se encaixar, quando tudo está em seu lugar, quando cada retalho está unido aos outros retalhos, forma-se uma linda colcha que além de adornar pode aquecer. Impossível não buscar sentido em tudo, embora algumas coisas só venhamos a compreender com o tempo, com a tão almejada maturidade.
A cada dia da minha vida, a cada nova manhã como hoje, decido mais uma vez ouvir a voz de Deus e obedecer-lhe, embora não compreenda muitas coisas. Decido honrá-lo e apartar-me do mal. Decido fazer as perguntas, ao invés de me preparar para respondê-las ou para me justificar, decido proclamar que nada sei, nada sou, mas o poder de Deus se aperfeiçoa no meu nada, na minha fraqueza.

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