quarta-feira, outubro 06, 2010

Pegadinha

Sou uma grande privilegiada por ter nascido num lar cristão. Reconheço que isso me poupou de muita desilusão. Conhecer a Deus, estar cercada de pessoas que desejam amá-lO de todo o coração e desenvolver disciplinas espirituais cedo são experiências fantásticas. Não sei se estou correta ou se você concordará comigo, mas, graças a Deus!, penso que o nível de revelação no meio evangélico cresceu muito.
Aprendi a temer e a ter medo de Deus na mesma medida, sobretudo de Sua vontade. Era difícil crer que a vontade de Deus era boa, perfeita e agradável. Na minha adolescência, pensava que tudo o que parecia ser bom era proibido. Graças a Deus fui uma garota obediente! Acreditava que a minha mãe sabia o que era melhor, e, mesmo quando não concordava, frequentemente obedecia. Hoje sei que ela tinha razão.
Assim é a Bíblia. Não mente, mas é necessário maturidade, experiência e revelação para entendê-la. Se diz que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável é porque assim o é.
Lembro-me de ouvir pessoas dizerem que, se você não quiser uma coisa, é exatamente isso que Deus quererá para você. Assim traduziam o desafio de morrer para si mesmo e fazer o que o Senhor quer. Hoje entendo como essa visão estava errada.
Deus tem um propósito para cada pessoa e não uma pegadinha. Ele colocou dentro de nós tudo o que é necessário para que cumpramos esse propósito, mesmo que, aparentemente, não estejamos compreendendo absolutamente nada. Na verdade, estamos cumprindo o propósito a cada dia que vivemos em obediência. Estamos sendo conduzidos exatamente àquilo que Ele quer ternamente, com carinho, com brandura. Como diz o Salmo 23, Ele nos guia mansamente a águas tranquilas e, nesse caminho, refrigera a nossa alma.
Não estamos vivendo uma grande pegadinha, estamos cumprindo o propósito se não estivermos nos rebelando contra o Senhor. Mesmo que não pareça, mesmo que seja difícil entender, a obediência leva a uma vida com significado.
José é prova do que digo. O relato de sua biografia começa com seus dezessete anos, um menino que falava demais e que tinha sonhos espetaculares. Era uma pessoa grandiosa desde adolescente. E a Bíblia vai relatando como essa grandeza culmina na entrega a ele de todo o antigo Egito para que se tornasse o maioral, ele que não era egípcio nem filho de Faraó. Aparentemente era tudo muito estranho: lutar com seus irmãos, ser enviado para a casa de um oficial de Faraó, acusado de sedução, lançado na prisão até chegar ao palácio que era, desde o princípio, o seu destino. Confesso que achava essa história muito estranha. Para que sofrer tanto? Mas quanto mais leio, mais aprendo.
Ninguém pode governar uma nação sem ter governado uma casa. Por isso foi enviado à casa de Potifar. Lá ele convivia com pessoas boas, vivia no bem bom, trabalhava bastante, mas era recompensado. Fazia parte do treinamento obedecer às ordens de Potifar e dar ordens a seus empregados, cuidar das coisas do patrão e fazê-lo prosperar, enfrentar o que lhe era proibido – sua mulher – e ser honesto no que lhe era permitido – todos os seus bens.
Também fazia parte do treinamento lidar com a escória, com quem não havia uma relação de autoridade. Na casa de Potifar, ele era o administrador. Na prisão, era um igual a todos. Teria de se elevar, de impor sua autoridade em outras bases. Não adiantava tentar mandar, teria de se fazer respeitar.
É aí que se vê que a grandeza que está dentro de nós ninguém mata. Embora fosse funcionário de Potifar, não cabia nele o mesmo destino dos escravos; tornou-se o administrador. Da mesma forma, embora fosse prisioneiro, não cabia nele esse destino – era o chefe dos prisioneiros e encarregado da prisão. E tudo fazia parte do treinamento. Aprendeu a lidar com o melhor e com o pior da sociedade.
Posso viver mais tranquila, sabendo que estou cumprindo o meu propósito a cada dia, sendo encaminhada por Deus para onde Ele quer me levar. Se eu simplesmente obedecer às suas ordens, seja na prisão, seja no palácio, seja em casa, seja na igreja, tudo contribuirá para o meu bem. Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28).

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