domingo, dezembro 30, 2012

Eu devia ter...

Imagino que este deva ser o último post de 2012. É muita responsabilidade escrever algo para fechar o ano. Poderia dizer do que me alegrou, do que me entristeceu, mas quero falar da lição mais importante que aprendi este ano e espero que de alguma forma sirva para você.

A vida é feita de estágios. Durante um tempo somos bebês, totalmente dependentes dos pais. Depois somos crianças, adolescentes, jovens, adultos, velhos. Conforme vamos progredindo no tempo, nossas concepções vão mudando, as exigências sobre nós também. É doentio não crescer. Fisicamente isso e visível, interiormente inconcebível.

A Palavra de Deus é imutável. Mesmo assim, quero falar de alguns estágios que descobri na lei "mais fundamental" (perdoe a redundância) da vida: a lei do amor. 

Deus revelou Sua Pessoa progressivamente ao homem, na medida em que este podia compreendê-lO. Foi de pouco a pouco, porque o homem não tinha parâmetros, capacidade de entender um Ser tão grandioso. E o mesmo fez em relação às Suas leis. Foi, e vai, nos ensinando pouco a pouco, exigindo somente aquilo a que podemos corresponder. 

Minha filha vai cursar agora o oitavo ano. O que se exige dela é muito superior ao que se exigia há quatro, cinco anos. Mas por que é assim? Porque hoje ela não só tem condições para isso, mas porque é necessário que prossiga no seu desenvolvimento. 

Quando éramos crianças espirituais, incapazes de muita coisa, Deus nos ensinou o fundamental - como nos relacionarmos com Ele e uns com os outros - com estas ordens: Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto, porque eu, Jeová, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta geração daqueles que me aborrecem,  e uso misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome de Jeová, teu Deus, em vão, porque Jeová não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.  Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra;  mas o sétimo dia é o sábado de Jeová, teu Deus. Nesse dia, não farás obra alguma, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o teu estrangeiro que está das tuas portas para dentro;  porque em seis dias fez Jeová o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há; por isso, Jeová abençoou o dia sétimo e o santificou.    Honrarás a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que Jeová, teu Deus, te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.    Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença (Êx 20:3-17).

Veja que aqui não se fala em amor. Deus regula o nosso relacionamento com Ele e com o próximo com leis que disciplinam o corriqueiro. Ele não fala em motivação, explica rapidamente alguns porquês, promete recompensa pela obediência em alguns casos, mas não discute muito o assunto.  Fazemos assim mesmo com os nossos filhos pequenos. Dizemos: "Faça isto, não faça aquilo, se fizer tal coisa ganhará aquele presente"... Ainda não é tempo de debater, não dá para explicar muita coisa, não se tolera a desobediência. Tem horas que chegamos a dizer: "Porque eu mandei e pronto; um dia você vai entender". Mas o tempo passa e é preciso se desenvolver. 

Deus resolveu vir ao mundo encarnado na pessoa de Seu Filho e estabeleceu um novo padrão para os relacionamentos. Não mais com base em ordens, no faça ou não faça. Olha que lindo o novo padrão: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.  Este é o grande e primeiro mandamento.  O segundo semelhante a este é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.  Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt 22:37-40). 

Agora o padrão é outro: não somente obedeça a Deus. Ame-O acima de tudo. E ame também ao próximo da mesma forma como você ama a si mesmo. E encerra dizendo: tudo depende disso. O que quer dizer toda lei e os profetas? Todos os conselhos, todos os mandamentos da Palavra, tudo o que está escrito na lei e tudo o que os profetas disseram pode ser cumprido se tão somente esses dois mandamentos forem obedecidos. Assim se resume tudo. E que resumo poderoso! 

Parecia simples, mas não era. E por que não? Porque o mundo está doente. Muitas pessoas são incapazes de amar a si mesmas. Assim, essa ordem: "Ame como você se ama" pode não ser eficaz. Deveríamos amar a nós mesmos, mas a vida tem sido muito dura para muita gente. Adoecidos na alma, muitos não conseguem se amar, se perdoar, se dar uma chance. Então, se nao é possível obedecer a esta parte será possível obedecer à outra?

Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei.  Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (Jo 15:12, 13). 

O terceiro e último mandamento é para quem caminhou, cresceu. Não se exige apenas a obediência, o faça o que eu mando; não devemos fazer ao outro na medida em que fizerem a nós; não devemos amar como nos amamos. Agora devemos amar como Cristo amou. E como Ele o fez? Mas Deus prova o seu amor para conosco em que, quando éramos ainda pecadores, morreu Cristo por nós (Rm 5:8). Jesus não morreu por nós quando o aceitamos, mas quando ainda éramos inimigos.  

É um padrão extremamente elevado amar os inimigos, não fazer conta das injúrias, não se vingar, perdoar, esquecer, dar a outra face, andar a segunda milha, dar a capa a quem rouba ou toma a túnica (Lc 6). Não importa em que estágio estão os outros. Importa em que estágio estamos nós. É preciso decisão: vou crescer, vale a pena obedecer, "esquecendo-me das coisas que para trás ficam prossigo para o alvo". 

Estou certa de que o mundo pode ser melhor se apenas decidirmos melhorar nossos relacionamentos, primeiramente com Deus, depois com o próximo.  Eu não quero cantar: 

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
E até errado mais
Ter feito o que queria fazer...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são 
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração... 
O acaso vai me proteger 
Enquanto eu andar distraído 
O acaso vai me proteger 
Enquanto eu andar... 
 Devia ter complicado menos 
Trabalhado menos 
Ter visto o sol se pôr 
Devia ter me importado menos 
Com problemas pequenos 
Ter morrido de amor... 
 Queria ter aceitado 
A vida como ela é 
A cada um cabe alegrias 

Colocando as coisas em seus devidos lugares, devo dizer que o acaso não protege ninguém. Corrijo o erro: Deus vai me proteger enquanto eu andar distraída... 

E enquanto Ele ainda me permitir acordar, serei ensinada, guardada, protegida, suprida, abençoada não para mim mesma, mas para fazer do nosso mundo um lugar melhor simplesmente obedecendo à lei do amor. 

Que venha 2013! 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

De recuperação

Nunca me esqueci de uma frase que ouvi a Pastora Laudjane dizer: "Algumas coisas serão mudadas, outras, serão aceitas". Infelizmente teremos que conviver, durante a nossa vida, com muita coisa de que não gostamos tanto em outros como em nós. Nem tudo pode ser mudado, mas a nossa disposição interior em relação a tudo, essa, sim, pode e deve ser trabalhada.

Embora pudesse com um estalar de dedos mudar o destino de Jesus Cristo, salvá-lO da cruz, livrá-lo de muita dor, o Pai não o fez. Esse plano não seria mudado; precisava ser aceito. E Jesus o aceitou humildemente. Como diz Filipenses 2: "E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome" (Fl 2.8,9).

É muito difícil passar por provas, por circunstâncias adversas. As aulas estão terminando. Hoje fui fazer a matrícula do meu filhote e a escola estava cheia. Muitos alunos ficaram de recuperação. E o que é a recuperação? É o atestado de que aquele assunto não foi compreendido plenamente, por isso deve ser revisto. É horrível ficar de recuperação, mas, muitas vezes, totalmente necessário.

Quero falar um pouquinho hoje de uma família que ficou de recuperação. Nos capítulos finais do livro de Gênesis há o relato de uma história que eu amo e que me ensina muito. Um pai chamado Jacó tinha doze filhos, mas um era seu predileto: José. Essa predileção era óbvia e isso e os sonhos de grandeza do menino deixaram seus irmãos profundamente irritados a ponto de quererem matá-lo. Apesar de desistirem desse intento, venderam o seu irmão como escravo e disseram a seu pai que o menino havia morrido. Assim como o pai não demonstrava consideração para com eles ao deixar clara a sua predileção, estes não demonstraram consideração para com o pai ao vê-lo sofrer por conta da mentirosa morte de seu filho predileto.

Será que há culpados nessa história? Cada um dá o que recebeu. Jacó também fora preterido por seu pai, que amava mais a seu irmão Esaú. Deu o que recebeu. Que triste sina!

Devemos tentar olhar a vida sob vários prismas. Muito do que fazemos está relacionado ao que fizeram conosco. Por isso precisamos ser mais compassivos. Não sabemos o que há por trás das atitudes dos outros, quanto daquilo é o que fizeram com eles, portanto, mera repetição, às vezes, até mesmo inconsciente. É aí que entra o fruto do espírito, que precisa ser desenvolvido em nós. Não temos qualquer controle sobre os outros, mas podemos controlar as nossas próprias reaçōes, denvolver o domínio próprio, a alegria, a mansidão, a longanimidade e, para mim, uma das nuances mais fantásticas do fruto: a benignidade, que é a capacidade de sempre pensar o bem acerca de qualquer coisa ou pessoa.

É claro que os anos trazem experiência, mas infelizmente não trazem a sabedoria: "Nós não ficamos mais sábios com a idade, nem sempre os velhos sabem o que é certo" (Jó 32:9). Para essa família viver em paz, ou o pai teria que mudar de atitude ou os filhos teriam que aprender a conviver com essa característica do pai.  Não adianta esperar a mudança, forçar a mudança, exigir a mudança. Faz muito mal para qualquer relacionamento as exigências. É melhor considerar que algumas coisas serão aceitas e trabalhar a mudança em nós mesmos.

Esses filhos ficaram de recuperação. Ou aprendiam a tolerar essa fraqueza do pai ou a família morreria. Então, se viram diante do mesmo teste. O filho que tinham vendido tornou-se governador do Egito, prendeu um dos irmãos e exigiu como condição para libertá-lo e livrar a família da fome a presença do outro irmão, agora o predileto do pai. "Ele [o pai], porém, disse: Não descerá meu filho convosco, porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe sucede algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza à sepultura (Gn 42.38). O pai só considerou aquele como filho. É triste vê-lo dizer: "Seu irmão é morto e só ele ficou". Indiretamente ele estava dizendo: "Só este eu considero, de fato, meu filho". Dureza. Ele não mudou. O pai não aprendeu que sua preferência gerou o ódio e a perda de um filho, mas os filhos aprenderam a conviver com as deficiência do pai. Eles não odiaram esse irmão. Na verdade, quem lê a história vê que fizeram de tudo para protegê-lo. A situação não mudou, mas eles mudaram. E como tudo termina? Com uma família unida. Eles passaram na recuperação.

Acho que este é um bom tema para o nosso fim de ano. Precisamos aceitar mais, estribuchar menos. Podemos ser melhores e viver melhor se simplesmente aceitarmos os outros como eles são e pararmos de tentar forçar mudanças. 

Muitas situaçōes e pessoas não mudarão, mas tudo muda quando eu mudo!

quarta-feira, novembro 21, 2012

Cara de pau

Nos últimos dias não tem sido muito fácil escrever. Normalmente eu o faço depois de passar um tempinho lendo a Bíblia. É quando me vem a inspiração para tudo o que digo aqui. Já me perguntaram como eu escolho os assuntos. É assim: vem naturalmente depois de um tempo com a Palavra. Mas agora me apaixonei por um comentário bíblico do livro de Gênesis que não tenho largado para nada. Estou descobrindo preciosidades incalculáveis, por isso tenho demorado tanto a escrever. Mas vamos lá. Estou cheia de coisas novas. Quem sabe um dia eu não apareço aqui por vídeo para contar o que estou aprendendo!

O capítulo 14 de Gênesis é muito interessante. Conta uma história de cinco reis que pagavam tributo a um certo rei, mas desistiram de fazê-lo. Então esse rei se junta a outros, guerreia e vence, levando consigo bens e pessoas das cidades que se rebelaram, entre elas o sobrinho do Patriarca Abraão.

Quando sabe da história, Abraão junta 318 pessoas e corre para socorrer um sobrinho que já tinha demonstrado ingratidão para com ele. Por estar junto com Abraão, Ló foi ricamente abençoado, enriqueceu a ponto de não poderem morar juntos, mas isso causou certa confusão em família. Então seu tio diz a ele que, para não comprometer o relacionamento, era melhor se separarem: “E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos” (Gn 13:8). Numa profunda falta de consideração, Ló escolhe ficar na melhor terra e deixa para seu tio uma paisagem de deserto.

Isso e muitos outros fatos da vida de Abraão nos fazem ver que não é à toa que Deus escolhe certas pessoas – Deus escolhe ou as pessoas se fazem escolher? Abraão não precisava lutar para salvar Ló. Duvido de que este pedisse qualquer favor. Mas Abraão entra numa guerra que não era sua e vence. E a Bíblia não traz nenhum relato de Ló voltando para agradecer – aliás, ele morre pobre, dentro de uma caverna, mas não volta para pedir ajuda a seu tio. Sem qualquer exigência, Abraão o defende colocando em risco a própria vida.

Lição difícil essa do dar sem esperar receber, do perdoar sem olhar o merecimento do perdoado, do ficar no prejuízo e ainda assim não levar em consideração. Por muito menos, riscamos as pessoas do nosso caderninho. E lá vem Jesus ensinando: “Jesus lhe disse: Não te digo que até sete [o número de vezes que se deve perdoar]; mas, até setenta vezes sete” (Mt 18.22).

Ainda não introduzi o que realmente pretendo dizer. Continuemos. Naquela época, quem vencia a batalha ficava com tudo: bens e pessoas, que transformavam em escravos. Eram os chamados despojos de guerra.

No caminho, mais um ingrato se aproxima de Abraão e este com exigências absurdas. “E o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as pessoas, e os bens toma para ti” (Gn 14.21). Quanta cara de pau! Ele perdeu a guerra, saiu fugido, merecia ter morrido, perdeu todo o seu povo, por conseguinte, seu direito de ser rei. E ainda quer de volta as pessoas! Fala sério. No fundo, deixar os bens para Abraão já lhe parecia muita bondade.

Aprendi que não compensa discutir com gente como o rei de Sodoma. Contra ingratos, caras de pau, folgados, melhor encerrar a conversa rapidinho, até a perda pode ser ganho. É aí que se revela a grandeza de caráter. Com algumas pessoas não vale a pena nem discutir.


Mais uma vez Abraão se mostra acima de qualquer comparação. Veja só como responde: “Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma: ‘Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra, jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” (Gn 14:22-23). É o cara.
Agora cheguei aonde quero. O primeiro versículo do capítulo seguinte é simplesmente fantástico: “Depois destas coisas veio a palavra do SENHOR a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão” (Gn 15:1). Chocante!

Se Deus ordena a Abraão que não tema é porque, no fundo, ele estava com medo. Por certo, temia uma represália. E se aqueles reis se juntassem novamente e fossem à revanche? Viver um milagre uma vez é bom demais, duas vezes, só com muita fé. Cinco exércitos contra 318 só com Deus mesmo. E Ele aparece dizendo: “Abraão, não temas. Eu sou o teu escudo”. Que demais! Pode vir um exército numeroso, podem vir exércitos e mais exércitos. Ele tem como escudo nada mais nada menos do que o Criador de todas as coisas, aquEle capaz de destruir e reconstruir tudo com o simples sopro de sua boca.

É assim que Deus surge na história, amigo, da forma como você precisa de que ele se manifeste. Se na necessidade, é o Deus provedor; se na batalha, o seu Escudo; se na doença, o Senhor que sara; se na angústia, o Consolador; se na dúvida, maravilhoso Conselheiro; se na tormenta, o Príncipe da paz. Como você precisa hoje de que Ele se apresente a você? Por qual nome você precisa chamá-lO hoje? Ele atende pelo nome que você precisar.

Só para terminar, vamos ao finalzinho do versículo. O rei de Sodoma queria se gabar de ter enriquecido a Abraão. Talvez quisesse contar para todo mundo: “Ele só se deu bem porque eu deixei; sabe aqueles bens, eu dei a ele”. Com muita sabedoria, o patriarca abriu mão de todos os despojos, bens e pessoas. Não levou absolutamente nada na batalha que empreendeu por simples bondade. E o que ganhou com isso? Absolutamente tudo. Deus lhe disse: “Eu sou o teu grandíssimo galardão”.

Às vezes, ganhamos mesmo quando perdemos. O que mais Abraão poderia querer?

terça-feira, novembro 20, 2012

Cada dia mais rica

Já me perguntaram se minha casa é própria, já me acompanharam até o estacionamento para ver qual é o meu carro, já quiseram saber o valor do meu salário e eu não escondo nenhuma dessas coisas, principalmente porque reconheço que não tenho absolutamente nada que do céu não me tenha sido concedido – “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" (Ti 1:17). Aliás, só não tenho mais pela minha absoluta incompetência em administrar, porque o meu Deus é extremamente generoso e tem um prazer enorme em me abençoar, mas, como todo bom Administrador, dá a cada um apenas o que ele é capaz de ter: “E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade” (Mt 25-15).

Estes meus 42 anos de vida me ensinaram a não medir a minha riqueza pelos bens que possuo. Não me fio neles. Coisas vêm e vão todo tempo. Tudo o que tenho é pela graça de Deus que me deu tão mais do que mereço que vivo constrangida por Seu favor ilimitado. Quem sou eu para que Ele me ame tanto? “Que é o homem que dele te lembres? E o filho do homem que o visites ?” (Sl 8.1). Por pura misericórdia, Ele resolveu adotar-me como filha. Deu-me seu nome, seu caráter, seu DNA, sua vida e o mais sensacional de todos os presentes: o Seu Santo Espírito. Como se não bastasse, dia a dia me acrescenta amigos, alguns mais chegados que irmãos.

Ontem senti-me a mais rica da pessoas. Chorei ao telefone, recebi mensagens lindas no Facebook e no celular. Constrangi-me com tantas coisas boas que me disseram, e tudo claramente vinha do fundo do coração.

Mais uma vez louvei a bondade do meu misericordioso Deus. Em meio à minha pequenez, Ele tem revelado aos outros uma Keila que estou aprendendo a ser. As pessoas falavam de mim de uma forma tão maravilhosa que eu só pude concluir com toda a certeza que se pode ter: "Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20). As pessoas falavam de mim, mas eu sei que não eram minhas as características em realce. A obra redentora de Cristo operou milagres extraordinários na minha pessoa.

Sou rica. Não posso dizer o contrário. Sou milionária, bilionária, “tudoária”... Coisas podem ser compradas, mas carinho, amor, respeito, admiração, pessoas, não. Estou cercada de gente maravilhosa, que me quer bem, que se importou em me fazer saber o quanto gosta de mim, me emocionou, me comoveu, me consternou. Quanta alegria! Que alegria!

Tive o mais simples dos aniversários; sem bolo, sem velhinhas - deixei para comemorar depois que acabarem as provas da Jujuzinha. Mas tinha dentro de mim uma alegria indizível. Era um prazer que não tem a ver com a casa cheia, com o número de presentes, com coisas e valores. Era uma alegria do fundo do coração mesmo, uma paz, uma sensação tão boa, tão boa que nem dá para explicar. Nada como se sentir amada!

Ah, evangelho maravilhoso que faz alguém como eu, com tão poucas possibilidades de ser agradável, ser tão celebrada! Ah, mudança poderosa que só Jesus faz!

Não tenho palavras para agradecer a você que se importa comigo. Sinto-me realmente obrigada a retribuir todo o bem que recebo sempre. Como vocês me enriqueceram!

Muito, muito, muito obrigada!

domingo, novembro 11, 2012

Tempo e espaço

Hoje é um dia especial: primeiro dia da semana, domingo; sétimo dia da semana, dia do descanso.

Deus resolveu que nossa vida seria determinada por ciclos de seis dias:
“Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos,  mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao  Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou" (Êx 20:8-11). Um dia, de sete, tornou muito especial. Tão especial que o capítulo 20 de Êxodo, que traz os Dez Mandamentos, destinou um versículo para cada ordem, mas para o sábado dedicou vários. Por que será? Porque Deus considerou esse assunto muito importante.

O homem foi chamado a dominar em duas esferas: o espaço e o tempo, ambas igualmente importante - aliás, o tempo é um pouco mais importante. Ter mais "espaço" na terra, que quero traduzir aqui por domínio sobre coisas, custa o nosso tempo. Recebemos salário porque entregamos o nosso tempo e a nossa força a alguém e determinamos quanto isso vale. Por outro lado, ter mais tempo pode ser mais fácil para quem é detentor de mais espaço. E o que quero chamar de tempo? Capacidade de dispor de si mesmo e do que possui à sua maneira.

Acho que estou sendo um pouco teórica, mas vou melhorar. Durante seis dias, podemos viver o frenesi de conquistar, sobreviver, crescer e multiplicar, mas, pelo menos um dia, precisamos parar, celebrar o fato de estar vivo e, mais importante de tudo, reconhecer que há um Deus que a tudo sustenta ao qual a nossa alma está diretamente ligada, de quem recebemos a nossa própria imagem, por quem ansiamos, mesmo sem saber. "Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus" (Sl 42:1).

Deus sabia que esse nosso anseio por dominar o espaço nos faria esquecer a premência do tempo, por isso ordenou que separássemos um dia, dando-nos Seu próprio exemplo: "Assim terminou a criação do céu, e da terra, e de tudo o que há neles. No sétimo dia Deus acabou de fazer todas as coisas e descansou de todo o trabalho que havia feito. Então abençoou o sétimo dia e o separou como um dia sagrado, pois nesse dia ele acabou de fazer todas as coisas e descansou" (Gn 2:1-3). Você prestou atenção em quantas vezes Ele fala a palavra "dia" em trecho tão pequeno?

Há um dano enorme na quebra de princípios. Separar um dia é um princípio benéfico ao próprio homem - “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mc 2:27). Outra versão do texto que postei acima diz que Deus abençoou o sábado e o santificou e descansou. Só para esclarecer novamente, o que vale é a separação de um dia, não importa que nome tenha esse dia: "Há quem considere um dia mais sagrado que outro; há quem considere iguais todos os dias" (Rm 14:5).

Sendo senhores do nosso próprio tempo, então, como obedecer a esse princípio que tem em vista a minha própria saúde e paz? Buscar a bênção que Deus dispensa de uma forma especial nesse dia. Como? Entrando em comunhão com Deus, estando disponível para ele, num tempo de quietude, meditação, paz. Separando esse dia de forma que ele seja realmente diferente de todos os outros nas programaçōes, no estado de espírito, nas próprias atitudes, perseguindo a paz. Por fim, se Deus descansou, tanto mais nós precisamos desse tempo.

Por que um post tão demorado e tão teórico em pleno domingo, um texto um tanto complicado? Para que você guarde a si mesmo da pressão da conquista, da necessidade do mais. Alguns consideram a parada perda de tempo, assim, gastam seu sétimo dia com fardos e mais fardos, obrigaçōes nada prazerosas, combates evitáveis. "Pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos" (I Tm 6:10).

Não sei quantas vezes por semana você separa um tempo para alimentar a sua fé, mas o domingo é um dia perfeito. Lembre-se de que
"nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4:4). Nada sustenta mais, nada alivia mais, nada consola mais do que essa poderosa palavra que procede da boca de Deus.

Preciso deixar para você algo que estava lendo que muito me marcou: "Contra o que lutamos é a entrega incondicional do homem ao espaço, sua escravização às coisas. Não devemos esquecer que não é uma coisa que empresta significado a um momento; é o momento que empresta significação às coisas" (Bruce Waltke).

Não deixe o fator espaço ter mais lugar na sua vida do que o fator tempo. "Busquem o Senhor enquanto é possível achá-lo; clamem por ele enquanto está perto" (Is 55:6).

Tenha um abençoado domingo!