segunda-feira, dezembro 23, 2013

Em família

Então Jesus disse aos seus discípulos: Imaginem que um de vocês vá à casa de um amigo, à meia-noite, e lhe diga: 'Amigo, me empreste três pães. É que um amigo meu acaba de chegar de viagem, e eu não tenho nada para lhe oferecer.' E imaginem que o amigo responda lá de dentro: 'Não me amole! A porta já está trancada, e eu e os meus filhos estamos deitados. Não posso me levantar para lhe dar os pães.' Jesus disse: Eu afirmo a vocês que pode ser que ele não se levante porque é amigo dele, mas certamente se levantará por causa da insistência dele e lhe dará tudo o que ele precisar. Por isso eu digo: peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês (Lc 11:5-9).

Há alguns meses o assunto do meu coração é oração. Não é uma disciplina fácil. E mais: nem é pra ser só uma disciplina; é para ser um prazer. Eu sei que o prazer vem depois que o ato se tornou uma disciplina. É assim com a leitura. Primeiro você se acostuma a ler. Depois que virou um hábito, ama. Não é diferente com a oração. É preciso trabalho para transformá-la num prazer.

Estava ouvindo um pastor chamado Lucinho Barreto falar sobre o assunto. Ele disse algumas coisas interessantes: não é fácil conversar com uma pessoa que não estamos vendo; orar parece loucura às vezes; temos que orar para aprender a orar. Experimentei o que ele ensinou. Orei pedindo para aprender a orar e gostar de fazê-lo - não que eu não goste, mas estou ciente de que o faço menos do que deveria. Atualmente tenho buscado crescer nessa prática, estudado o assunto, lido a respeito. Vou ser uma mulher de oração. Ah, vou!

Como já disse outras vezes, quando você decide entender uma coisa, o Espírito Santo tem prazer em ensinar. Hoje estava lendo esse texto aí de cima e percebi algo novo.

O texto que vem antes do que colei aí em cima é a oração do Pai Nosso. Os discípulos acompanhavam a vida de oração de Jesus e resolveram pedir a Ele que os ensinasse a orar. Jesus separou esse capítulo para tratar do tema. Mostrou um modelo básico de oração que nada tem a ver com uma repetição que se deva fazer diariamente, mas com princípios e assuntos de que não deveríamos nos esquecer quando fôssemos orar.

Logo depois, Ele fala sobre o desejo de Deus de nos atender por meio de uma comparação. Exemplifica com um homem que é importunado à noite para socorrer outro em sua necessidade. Infelizmente, alguns pensam que a lição que Ele está a ensinar aqui é que, se formos insistentes com Deus, mesmo que seja inoportuno o nosso pedido, Ele nos atenderá. Não é nada disso.

Analisando o que vem antes e o que vem depois, podemos compreender o que Jesus está querendo nos ensinar: podemos ter a certeza de que seremos atendidos. Nos versículos anteriores, Ele nos ensinar a orar para o nosso Pai que está no céu. Veja, Ele diz que Deus é nada mais nada menos do que nosso Pai: Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem! (Lc 11:11-13).

Essa afirmação de que Deus é nosso Pai e deseja nos atender parece não casar muito bem com o primeiro texto, do amigo importunado para atender o pedido de um outro desprevenido e inoportuno. O que quer, então, Jesus nos ensinar com o exemplo? Vamos lá.

Primeiro, há pessoas que não se importam conosco, não têm nenhuma vontade de nos ajudar. Não fazemos parte de sua família, não somos do seu círculo de parentes. Elas não têm obrigação nenhuma de nos socorrer. Quando recorremos a elas, se sentem importunadas. Para elas, somos um incômodo, uma visita inoportuna, inconveniente, inadequada. Se fizermos a elas alguma pedido, nos atenderão, mas apenas para se verem livres de nós. O que a parábola quer ensinar não é que Deus é comparável a alguém que se sente importunado por um outro que tem necessidades. Deus não é um amigo, é nosso Pai; nós não somos Seus amigos, somos Seus filhos. No exemplo de cima, quem vai em busca de ajuda não tem vínculo com aquele que o ajudará. É só um amigo. Não é o nosso caso.

O nosso caso com Deus. Não somos visitas indesejadas, não somos inoportunos, jamais seremos inadequados. Somos filhos, e filhos amados. Portanto, ir ao nosso Pai pedindo ajuda não é invadir um terreno ao qual não pertencemos. De fato, nosso lugar é onde Deus está. Na casa do Pai não há hora para chegar, assunto sobre o qual falar, geladeira que não se possa abrir, coisas que não se possa pegar. A casa do pai é um lugar ao qual o filho tem livre acesso. E filho é sempre bem-vindo na casa do Pai. E mais: se um filho está em dificuldades, se precisa procurar alguém a quem pedir ajudar, pode saber que não há pessoa melhor do que o pai para nos ajudar.

O homem do exemplo era alguém que não queria atender, mas atendeu. Mesmo importunado, socorreu. Imaginem como não age o nosso Pai, que está desejoso de nos abençoar! Se um homem mau atende, muito mais Deus.

Segunda comparação: olhemos para nós mesmos - "Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede um peixe? Ou, se o filho pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu". Nós, que nem somos um exemplo de virtude, temos prazer em presentear nossos filhos, não é mesmo? O Natal está chegando. Com certeza, nós pais já escolhemos os presentes que daremos a eles. Gostaríamos de que não passassem por dificuldades, não sofressem, que pudéssemos facilitar a vida deles ao máximo. Se nós, que somos maus, sabemos dar boas dádivas aos nossos filhos, queremos vê-los sorrir, alegrá-los, imaginem Deus!

Orar não é só pedir, mas Deus sabe que as coisas aqui embaixo não são fáceis. Quantos desafios! Foi Ele mesmo que disse: No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo (Jo 16:33). Em outras palavras: "Não se sinta só, não fique constrangido por precisar de ajuda, não pense que, ao Me buscar, vou dar um grande sermão e dizer a você que precisa aprender e mudar de vida! Se você errar, não vou jogar na sua cara: 'Eu te avisei!' Não pense que não sei o que você sente, suas dificuldades, suas dores, seus problemas!"

Se nós nos esforçamos tanto para sermos bons pais, pensem na bondade de Deus, no amor que tem por nós!

Deus quer que oremos. Para tornar um pouco menos difícil isso, nos ensina que, mesmo que nos acheguemos a Ele só para pedir, podemos estar certos de que nos atenderá.

Pode encher a boca e começar dizendo: "PAI NOSSO"...


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