quarta-feira, julho 21, 2010

Enigma

Recentemente tive o grande prazer de rever na televisão o filme O Todo-Poderoso 2.Todas as vezes que o vejo me impressiono com as coisas que Deus (Morgan Freeman) diz. Tenho certeza de que o Espírito Santo inspirou o escritor daquele filme nas falas de Deus. E uma das frases que ficaram marcadas no meu coração é quando Noé chega diante de Deus e pergunta: “Eu te conheço?”; ele docemente responde: “Não como eu gostaria”.
Deus quer mesmo que eu O conheça. Apesar de muitas vezes não conseguirmos profundidade no relacionamento com Ele – por nossa causa e não por culpa dEle -, é fato que Ele quer se revelar. Ninguém até hoje escreveu uma autobiografia tão detalhada, tão minuciosa. Ele faz declarações de amor tão chocantes que são de chorar. Com amor eterno te amei, por , com benignidade te atraí (Jr 31:3). Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti (Is 49:15).
Recentemente estava lendo o livro de Isaías e devo confessar que ficava um pouco chateada quando lia os profetas maiores. Apesar de saber que a correção é sempre fruto de um desejo profundo de Deus de resgatar Seu povo, a fim de não permitir que eles sejam destruídos ou percam sua identidade, meu coração sangrava quando lia sobre toda a miséria que viria sobre Israel. Eu não conseguia ver nas páginas dos profetas o retrato do amor de Deus, mas apenas profecias duríssimas que eu sabia que tinham se cumprido na íntegra.
Confesso que não pensava que cada um daqueles juízos foi previsto antes que qualquer deles ocorresse. Deus deixou muitíssimo claro o que aconteceria antes de acontecer. Nada sofreu o povo sem prévio aviso. Em vez de pensar na dureza e na incredulidade do povo, eu pensava em como Deus permitiria tanta calamidade. Jamais consegui ver na correção um ato de amor ou de proteção de Deus a fim de impedir o extermínio de Israel por completo. Aliás, é impressionante ver como um povo que, por várias vezes, quase foi banido da terra conseguiu manter seus costumes, suas tradições, sua personalidade, mesmo passando por tudo os judeus enfrentaram ao longo da história.
Voltando ao livro de Isaías, resolvi lê-lo devagar, saboreando parte por parte e pedindo ao Senhor que me mostrasse um Deus de amor escrevendo um juízo tão doloroso. Fiquei muito surpresa quando vi, logo no primeiro capítulo, a proposta de restauração feita por Deus a eles e um versículo que é puro amor: Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã (Is 1:18).
Deus ama. Deus é amor (I Jo 4:8). Deus não permitirá que sejamos destruídos, por isso fará o que for necessário para que voltemos aos Seus caminhos. A tua vara e o teu cajado me consolam ( Sl 23:4). A Sua disciplina tem como finalidade impedir que nós nos matemos.
Quem tem criança sabe que, quando pequenas, elas têm um fascínio por tomadas. É só soltar o bebê para ele correr em direção a elas e tentar colocar o dedinho naqueles furinhos tão convidativos. Nós mães nos precavemos de toda maneira: colocamos tampinhas nas tomadas, fazemos o que for necessário, mas, sobre alguns lugares, não temos controle. Então, quando vemos nossos filhos em perigo, chegamos a dar palmadinhas na mãozinha, a fim de evitar que eles se machuquem ou até mesmo morram. É claro que eles não têm a menor noção de quão perigosas as tomadas podem ser. Por isso é tão grande a responsabilidade das mães, pois, deixadas à própria sorte, as crianças podem causar a si mesmas males irreversíveis.
Assim Deus age para conosco. Temos apenas uma vaga ideia do dano que um pecado pode causar, mas não estamos tão convencidos assim de que eles geram morte: Porque o salário do pecado é a morte (Rm 6:23). Talvez temêssemos um pouco mais se víssemos, por exemplo, assassinos serem acometidos de enfarto logo após a morte de sua vítima. Se isso acontecesse todas as vezes, certamente eles não quereriam correr o risco e talvez diminuísse o número de assassinatos. Mas não é assim que acontece, embora o texto bíblico se cumpra na íntegra. O pecado tem consequências extremamente danosas, embora nem seja possível discerni-las. Na verdade, uma transgressão convida a uma outra transgressão que convida a outra transgressão. Usando um exemplo bem fácil de entender, é como uma mentira, que convida a outra mentira para manter a primeira, que convida a outra mentira para embasar as duas anteriores e por aí vai...
Deus quer me proteger. Ele quer se revelar a mim para que eu me pareça cada vez mais com Ele e seja cheia da paz que excede todo entendimento, do amor que é sem medida, da alegria a despeito das circunstâncias, do Seu caráter. Ele quis me ensinar que é possível ter uma vida digna nesta terra enviando Jesus como grande exemplo. Ele veio, cumpriu Sua missão, deu-nos o exemplo, vivendo sem pecado neste mundo e demonstrando que Deus ama tão absolutamente que nos perdoa porque sabe que somos crianças: muitas vezes não temos a menor ideia do que estamos fazendo.
Deus quer se revelar. E só podemos conhecê-lo através de duas práticas muito simples: a leitura da sua autobiografia e a conversa com Ele por meio da oração. Não vou dizer que sejam uma prática fácil, porque parece que tudo no mundo conspira contra a necessidade de ler a Bíblia e orar. Estamos cada vez mais agitados, pressionados, cada dia parece que temos menos tempo. Não tenho a menor dúvida de que o mundo está acelerado, os dias são menores e as obrigações mais urgentes. Mas também estou certa de que Deus deseja muitíssimo se revelar. Seu Espírito está sendo derramado em muitos lugares e quem está sedento tem encontrado água abundante em muitos lugares. Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7:37).
Deus está disponível agora, cheio de amor e esperando para se relacionar conosco. Buscar-me-eis e me encontrareis quando me buscardes de todo o vosso coração (Jr 29:13). Ele não quer ser para nós um enigma. Temos total acesso a Ele por meio de Sua Palavra. Ele nos convida: Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra (Os 6:3).

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