quarta-feira, agosto 29, 2012

Gravidez indesejada

Há tempos não consigo me livrar do livro de Tiago. Sento para fazer minha devocional e não consigo abrir em outro lugar. E não me canso de ler a mesma coisa. Aliás, tem um texto de Paulo que amo e trata disto: "Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós" (Fl 3.1). Às vezes, a repetição é necessária.

Cada vez que leio, vejo o texto sob uma nova perspectiva. A Bíblia nos manda reconhecer o Senhor nos nossos caminhos, o que quer dizer que devo entender o porquê de sentir que devo ler o mesmo livro, o mesmo livro, o mesmo livro todo dia. É claro que o Espírito Santo quer me dizer que ainda não entendi o que quer que eu aprenda. E talvez queira também que eu transmita isso a você. Quando ensino a outros, aprendo muito mais. Então vamos lá.

O tema principal de Tiago são as aflições. Ele as define como sendo um presente especial. A Bíblia A Mensagem, uma tradução na linguagem contemporânea, aborda o assunto da seguinte maneira: "Amigos, quando lutas e aflições os atingirem em cheio, saibam que isso é um presente especial" (Ti 2.4). Pode não parecer que as lutas são um presente, mas se a Bíblia diz que é assim, o é de fato.

Nossa sabedoria de mãe não nos permite livrar nossos filhos de muita coisa. Embora não gostem de tomar banho, escovar dentes, fazer dever de casa e outras muitas coisas, sabemos da importância de tais práticas que, na visão deles, são afliçōes e nos mantemos inflexíveis diante de seus pedidos de socorro. Da mesma maneira, a Bíblia, quando nos dá alguma instrução, tem em vista o nosso futuro. Para que suportemos aquilo por que temos que passar, nos dá vislumbres da recompensa.

Jesus só suportou o calvário, porque tinha em mente a glória que estava reservada para Ele no futuro. Daniel só suportou a cova, porque estava plenamente convicto de que Deus tinha um propósito. Talvez seja por isso que Deus escreveu em vários livros das glórias que haveremos de usufruir no futuro, deu-nos um vislumbre do que nos aguarda. Descrevendo o céu, gera em nós o desejo de alcançá-lo. Antes de matar Golias, Davi perguntou qual seria a recompensa. Além de engrandecer o nome de Deus e de livrar o povo da opressão, o garotinho se tornaria genro do rei, sua família ficaria livre de impostos e desfrutaria de outros benefícios.

A aflição tem razão de ser. Precisamos saber disso para nos animarmos enquanto a enfrentamos. Pensar que a recompensa virá apenas num futuro distante pode desanimar. Quem lê o livro de Tiago aprende que as dores não são apenas para serem contadas no mundo futuro. Elas têm um efeito prático para o aqui e o agora: "Vocês verão como a fé será fortalecida e como terão forças para continuar até o fim" (Ti 1.3). Logo, o propósito da aflição é fortalecer a nossa fé, nos solidificar em Deus, mas isso só acontecerá se dermos a resposta correta.

E o que Deus espera de nós não aflição? O verso quatro explica isso de uma maneira primorosa: "Por isso, não desistam facilmente. Essa perseverança os ajudará a amadurecer e a desenvolver plenamente o caráter de vocês". Está bem respondida a nossa pergunta. O que Deus espera é apenas isto: que suportemos, não retrocedendo. O livro de Gálatas também nos adverte: "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu ao tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido"(Gl 6.9). Se aguentarmos até o fim, faremos jus à recompensa, colheremos os frutos.

Eclesiastes, no seu capítulo três, diz que tudo tem seu tempo determinado. Nós sabemos que a gravidez das mulheres deve durar nove meses. Deus determinou que esse seria o tempo necessário para que uma criança fosse formada. Se ela nascer aos cinco meses, por exemplo, há um risco muito grande de que tenha problemas ou até mesmo morra. O tempo determinado são nove meses: nem mais, nem menos. E é por saber que tem prazo que a mulher suporta cada dia. Nós que somos mães sabemos que os últimos meses são os mais difíceis. Por vezes, não conseguimos dormir, não conseguimos fazer bem a digestão, por isso comemos menos, não conseguimos andar muito. É desconfortável, é incômodo, é muito cansativo. Mas sabemos que o tempo está para vencer, que cada dia está mais próxima a chegada tão aguardada, então nos fortalecemos a cada dia nessa espera.

Você pode não gostar da minha comparação, mas ainda assim vou fazê-la: estamos grávidos de provações. Como assim, Keila? Assim mesmo. Um fruto precisa ser gerado em nós para que consigamos completar nossa jornada. E ele é formado em meio à aflição. A notícia boa é que ele tem prazo certo para nascer. E ainda que pareça muito difícil, leia este texto: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente" (II Co 4.17). A aflição ou tribulação tem prazo certo e é leve e momentânea, mesmo que não pareça. E tenho uma notícia ainda melhor: aquEle que permitiu que ela viesse, já preparou para nós livramento. Está escrito: "As tentações que vocês têm de enfrentar são as mesmas que os outros enfrentam; mas Deus cumpre a sua promessa e não deixará que vocês sofram tentações que vocês não têm forças para suportar. Quando uma tentação vier, Deus dará forças a vocês para suportá-la, e assim vocês poderão sair dela" (I Co 10:13). Deus já preparou o livramento.

Definitivamente estar grávido de uma tribulação não é algo desejado, mas podemos nos reanimar, sabendo que tem hora para acabar e que nascerá um fruto precioso. Está cada dia mais próximo o nascimento da nossa paciência, da nossa perseverança, o aprimoramento do nosso caráter, o fortalecimento da nossa fé. São esses alguns dos frutos pacíficos que a aflição vai gerar em nós.

A aflição não é um teste de Deus para ver se você está fortinho, crente. É o resultado de viver num mundo caído: "No mundo tereis afliçōes" (Jo 16.33). A aflição não vem para nos destruir, mas para nos fortalecer, para criar em nós uma casca mais grossa para enfrentarmos os novos desafios que virão.

Certamente você está sendo desafiado em alguma área e talvez pareça tão difícil a sua situação que você já pensou em desistir. Aguente firme. Olhe novamente, preste atenção que encontrará o livramento. Ele existe e está bem pertinho de você. E embora pareça que está demorando, que a luta está ficando ainda maior, que o fogo está mais quente, lembre-se de que é assim mesmo. Quanto mais perto está o nascimento do resultado, mais intenso o desconforto. Vai nascer! Vai nascer!

Não aborte o que Deus tem para você. A única pessoa capaz de fazer com que fracasse é você mesmo. Deus não espera grandes coisas, mas algo muito simples: persevere.

Termino com um salmo de Davi que diz: "Esperei com paciência pelo Senhor e Ele se inclinou para mim". Se o salmista diz que esperou com paciência deve ser porque demorou um bocado, não é mesmo? Mas se ele pôde, eu e você podemos esperar também.

Aguente firme. O livramento está ao seu alcance.

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