sexta-feira, agosto 31, 2012

Descombinado


O centro do evangelho é a pessoa de Jesus Cristo. A história se divide em Antes de Cristo e Depois de Cristo, porque Ele veio para marcar a humanidade de forma inegável e para sempre. Depois dEle o mundo foi outro, a história da humanidade jamais foi a mesma, a nossa história pessoal nunca volta a ser como antes. É por isso que estou convicta de que o evangelho não é um assunto a ser discutido; é uma experiência a ser vivenciada.

Jesus veio inaugurar um novo tempo. Um tempo de intimidade e comunhão com o Pai, um tempo de um Deus presente e acessível, um tempo de uma liberdade jamais vista, um tempo de sinceridade sem legalismo, um tempo do fim das máscaras e da rerligiosidade. Ele revelou um Deus que a humanidade jamais pensou existir. Até então Deus era para muitos uma divindade distante, fria, dura, muitas vezes cruel. Mas Ele nos revelou um Pai amoroso, misericordioso, disponível, sempre presente, cuidadoso, recompensador, desejoso de nos abençoar.

Hoje quero relatar algo que aprendi. No Velho Testamento, Deus falava a mesma linguagem que aquele homem conhecia: a linguagem da guerra, do domínio, das alianças. E o homem transmitia a Deus da maneira como conseguia compreendê-lO. O homem só consegue compreender os assuntos na medida do desenvolvimento de seu intelecto e de suas experiências.

Estava lendo este texto aqui: "Vinde, e tornemos para o Senhor, porque ele despedaçou e nos sarará, fez a ferida e a ligará" (Os 6.1). É preciso explicar o que o texto está a dizer, porque, ao primeiro olhar, pode-se pensar que Deus faz o mal, o que é incabível.

Deus é supremo, soberano. Ele está no controle de absolutamente tudo. Nada escapa do Seu olhar, do Seu controle. É sempre Sua a última palavra.

Quando o texto fala que Deus fez a ferida não quer dizer que Ele bateu até machucar, mas simplesmente que Ele permitiu que fôssemos feridos. E isso acontece conosco por dois motivos: nós ferimos a nós mesmos ou somos feridos por alguém. Não é exatamente Ele que nos fere, mas permite que isso aconteça de uma ou de outra forma.

Talvez você me questione, não concorde com o que digo, mas quero explicar melhor a minha tese. Quando um empregado, mesmo que graduado, age numa empresa, em última análise, seus atos são "permissão" ou um reflexo da atitude de seu chefe. Quando um gerente admite um funcionário, o faz sob a autoridade do chefe. Sem que este o permita, nada é possível. Assim, em última análise, quem contratou não foi o gerente; foi o próprio chefe na pessoa do gerente.

Permita-me continuar nessa explicação porque quero que você entenda bem direitinho essa questão. Quando um funcionário vende um carro, o responsável por aquela venda não é o próprio empregado e, se algum problema houver, quem responderá não será aquela pessoa, mas a própria empresa, em última análise, o seu dono. Embora o nosso direito separe a pessoa física da pessoa jurídica, separe o dono da própria empresa como se fosse possível a empresa existir sem o seu dono, a empresa é o dono e o dono é a empresa.

O mesmo acontece no Velho Testamento. As pessoas que o escreveram entendiam Deus como aquele que fazia o bem e executava também o mal, mas em relação ao último, Ele não o executa; apenas permite. Deus não faz o mal, mas não intervém para impedi-lo a menos que peçamos a Sua ajuda. Quando o texto diz que Deus fez a ferida, esse ato não é uma ação dEle, mas uma omissão em impedi-lo. Como espero que você tenha entendido isso! Mas vamos seguir no texto que é profundo.

Eu não sei se você é como eu: tem a impressão de que, às vezes, os versículos não combinam. Os versos que seguem esse daí são estes: "Depois de dois dias, nos dará a vida; ao terceiro dia, nos ressuscitará, e viveremos diante dele. Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" (Os 6.2,3).

Parece que num mesmo capítulo, uma parte nada tem a ver com a outra. Só que é impossível isso acontecer. Foi sob a inspiração do Espírito Santo que a Bíblia foi escrita e Ele não erra, não perde o fio da meada, não muda de assunto bruscamente. Na verdade, foram estudiosos que, para facilitar, dividiram a Bíblia em capítulos, versículos, livros.

"Depois de dois dias, nos dará vida; e ao terceiro dia, nos ressuscitará e viveremos diante dEle". Esse verso nos revela que a ferida tem prazo para cicatrizar. Depois de satisfeito esse prazo, Ele virá e intervirá de uma forma sobrenatural: nos ressuscitará. E o que acontecerá então? Viveremos diante dEle. Que glória! Que maravilha!

E tem mais. Posso viver diante do meu vizinho, morar anos ao lado de alguém e jamais conhecê-lo. Aí vem o verso seguinte: "Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor: como a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" (Os 6.3). Ele já fez o mais difícil: nos sarou, nos revigorou, nos ressuscitou e nos colocou diante dEle. Agora nos convida a fazer a nossa parte: conheçamos a Deus.

Esse conhecer que Deus quer não é aquele conhecer de vista, de longe, sem envolvimento. É um conhecer como os maridos conhecem sua esposa, no nível de intimidade mesmo. E só conhecer não basta. O Senhor quer que prossigamos em conhecê-lO. Tornemo-nos cada dia mais e mais íntimos. É uma ação que dá trabalho mesmo, demanda tempo, recursos, esforço.

E o texto termina com uma afirmação maravilhosa: se nos movermos nesse rumo, a sua vinda é certa. Ele virá a nós. Ele estará em nós e nós nEle. Seremos um.

Mas aquele que se une ao Senhor é um só espírito com Ele (I Co 6:17).

Nenhum comentário:

Postar um comentário