sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Parecia ouro, mas era lixo.

Algumas coisas têm me incomodado bastante nos últimos dias e uma delas é a necessidade que demonstram as pessoas de provar para as outras que são ou têm mais do que as demais. Não quero dizer com isso que estou livre desse mal. Infelizmente não estou. O que Paulo escreveu serve perfeitamente para mim – pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo. Pois não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero fazer é que eu faço (Rm 7.18,19) –, mas pelo menos acho que estou consciente e tento me policiar. Depois deste post então... Melhor vigiar bastante.

Tento prestar atenção no que digo e até peço ao meu marido para me ajudar. Tento controlar o número de vezes em que a minha conversa gira em torno de mim, das minhas questões, da minha família, do meu, meu, meu. E também peço ao Espírito Santo para me lembrar sempre de que, na verdade, essa palavra é ilusória. Não existe o meu. Tudo o que tenho vem de Deus – O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for concedido (Jo 3.27) – por um ato maravilhoso de bondade e, se algo estiver me prejudicando, certamente Ele tirará das minhas mãos – ô vício! Olha o “meu” aí de novo!

Continuo estudando os evangelhos, impressionada com as histórias, impressionada com as pessoas. Estava lendo Lucas 2.19: Maria guardava todas essas coisas no seu coração e pensava muito nelas. Parafraseando: Keila guardava todas essas coisas no seu livro de memórias e contava para todo mundo. Acho que meu versículo seria assim até antes deste tempo de reflexão.

Antes de continuar, preciso dizer a você a que o versículo se refere. O nascimento de Jesus foi recheado de acontecimentos sobrenaturais. Houve aparição de anjos para Maria, para José, para Zacarias, para pastores, profecia vinda da boca de Isabel, estrela guiando reis magos e posso imaginar o que não sentiu Maria ao dar à luz ao extraordinário infante. Não duvidaria se ela me dissesse que ouviu coros celestiais, viu raios e relâmpagos, ouviu a voz do próprio Deus, não sentiu uma gota de dor...

Com conquistas tão ínfimas de coisas tão insignificantes fazemos tanta propaganda! Postamos no Facebook a foto da casa nova, divulgamos o preço do carro novo, mostramos aos outros os acessórios do nosso celular, propagamos quantos quilos emagrecemos... Nada contra tudo isso, desde que não signifique um meio de provar o nosso valor, de mostrar aos outros que somos mais ou temos mais. Tenho pavor de conversas que começam com: onde você trabalha, onde mora, quanto ganha, de que marca é a sua bolsa, quanto custou o seu sapato... Socorro!!!

Maria tinha do que se gloriar. Seria a mãe do Salvador. Que honra! Que glória! Que privilégio! Ela podia contar para todo mundo o que estavam a dizer acerca do menino, mas resolveu “guardar todas essas coisas no seu coração”. Que mulher extraordinária! Ela exerceu com muita grandeza o papel de coadjuvante, o que muito poucos aceitariam.

Faz parte da natureza humana a competição. Recentemente meu filho me perguntou: “Mamãe, o que eu faço para ser famoso”? Respondi que ele simplesmente não tem noção do quanto já é famoso. Os céus e o inferno falam muito sobre ele, seu nome está na palma da mão de Deus, anjos têm recebido ordens para guardá-lo e eu sou sua maior fã. De onde saiu essa pergunta?

Muitos se levantaram contra o apóstolo Paulo por causa da preeminência que ele havia alcançado. Então ele começa a descrever, no livro de Filipenses, como poderia se gloriar por ser mais do que todos os outros que falavam dele. Descreve sua linhagem, sua capacidade, onde estudou, mas termina de forma sublime: No passado, todas essas coisas [gloriar-se na estirpe] valiam muito para mim; mas agora, por causa de Cristo, considero que não têm nenhum valor. E não somente essas coisas, mas considero tudo uma completa perda, comparado com aquilo que tem muito mais valor, isto é, conhecer completamente Cristo Jesus, o meu Senhor. Eu joguei tudo fora como se fosse lixo, a fim de poder ganhar a Cristo e estar unido com ele (Fl 3.7,8,9). Permita-me mais uma vez parafrasear: considero minha cidadania privilegiada lixo; considero minha capacidade intelectual lixo; considero meu poder de influência lixo; considero minha supremacia lixo; considero minha seriedade, eficiência, riqueza, fama, poder, prestígio... LIXO.

Maria guardava tudo no coração. E devia ser um coração bem grande mesmo! Só não maior, infelizmente, que a boca de muita gente, inclusive a minha. Misericórdia! Preciso me arrepender e jogar no lixo muita coisa que para mim já teve muito valor.

Espírito Santo, socorro!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário